Nosso corpo é recoberto de microrganismos. Eles revestem todas as superfícies que mantêm contato com o meio exterior como: intestino, pele, sistema genital, sistema urinário e sistema respiratório. O conjunto desses microrganismos é chamado de Microbioma humano.
Nosso microbioma é composto de cerca de 100 trilhões de micróbios.
Esse número, 100 trilhões, é muito impressionante. No mundo temos cerca de 8 bilhões de pessoas. OU seja, temos mais bactérias no intestino do que pessoas no mundo. A população de micro-organismos do nosso organismo é 12 mil vezes maior que população mundial.
Embora inicialmente se pensasse que haviam mais células microbianas do que humanas no nosso corpo, estimativas recentes mostram que as células microbianas e humanas estão presentes em números semelhantes, ou seja, somos 50% humanos e 50% micro-organismos variados.
MICROBIOMA INTESTINAL
Microbioma intestinal é o nome dado a todos esses microorganismos que habitam o intestino.
A maior parte do nosso microbioma reside no intestino e é chamada de microbiota intestinal: 100 trilhões de microrganismos residem no intestino - bactérias, fungos, vírus e arqueias.
Em um indivíduo saudável de 70kg a microbiota intestinal reúne mais de 100 trilhões de microrganismos e pesa cerca de 200g (o equivalente a uma manga de tamanho médio).
Cada pessoa abriga conjuntos de microrganismos diferentes. Embora exista um 'núcleo' composto de 1/3 dos microorganismos que é comum a todos os seres humanos saudáveis, a composição da microbiota intestinal é única para cada indivíduo. Cada um de nós contêm comunidades de micro-organismos tão singulares quanto nossas impressões digitais.
O conhecimento do microbioma intestinal é relativamente novo. Antes do ano 2000, as bactérias intestinais eram analisadas usando métodos de cultivo em laboratório. Mas, esse método não conseguia identificar grande parte das espécies, principalmente das bactérias anaeróbicas que constituem a maioria das bactérias do intestino grosso.
O que motivou esse maior conhecimento do microbioma foram as tecnologias de análise do DNA utilizadas no mapeamento do genoma humano que teve seus primeiros resultados no ano 2000.
Essas tecnologias, sempre aperfeiçoadas, foram aplicadas em seguida no PROJETO MICROBIOMA HUMANO que, em 2013, apresentou os primeiros resultados.
PROJETO MICROBIOMA HUMANO
O Projeto Microbioma Humano (Human Microbiome Project, em inglês) foi uma iniciativa de pesquisa lançada em 2007 pelo "National Institutes of Health" (NIH) dos Estados Unidos. Seu objetivo principal foi mapear e caracterizar o microbioma humano, ou seja, as comunidades microbianas presentes no corpo humano e suas funções.
O projeto visou analisar amostras de diferentes regiões do corpo, incluindo o trato gastrointestinal, a pele, a cavidade oral, as vias aéreas, o trato urogenital e outros. Através do sequenciamento do DNA das amostras coletadas, os pesquisadores buscaram identificar as espécies microbianas presentes, determinar a diversidade microbiana e investigar as funções genéticas desempenhadas pelos microrganismos.
Um dos resultados mais importantes desse projeto foi mostrar que nosso microbioma vem sofrendo uma redução importante das espécies.
O microbioma das populações ocidentais comparado com o de populações isoladas, que ainda adotam o estilo de vida caçador coletor, como por exemplo os Hadzas, que vivem na Africa, ou comparada com o dos povos isolados da região amazônica, vemos que no ocidente perdemos mais de 50 % das espécies que compõem o microbioma.
Foto de um grupo de Hadzas - National Geographic
Dadas as suas importantes funções, os cientistas hoje em dia consideram a microbiota intestinal um "novo órgão" do nosso corpo.
METAGENOMA HUMANO
O termo "metagenoma" refere-se especificamente ao conjunto de genes obtidos a partir do sequenciamento do DNA da microbiota, excluindo os genes do hospedeiro humano. O metagenoma é o resultado do sequenciamento e análise genômica das comunidades microbianas presentes em uma determinada amostra, como o microbioma intestinal.
Um fato interessante é que existem cerca de 150 a 200 vezes mais genes na microbiota intestinal do que em todas as suas células humanas do organismo juntas.
O genoma humano consiste em cerca de 20.000 genes codificadores de proteínas, - não mais do que um camundongo, e menos do que algumas plantas comuns de laboratório! Como poderiam seres tão inteligentes e complicados como nós sobrevivermos com tão poucos genes? Acontece que nós, humanos, não somos simplesmente apenas humanos. Cada um de nós é um ecossistema com cerca de 100 trilhões de outros organismos microscópicos vivendo dentro e sobre nós.
E esses micro-organismos, conhecidos coletivamente como nosso microbioma, codificam mais de 3 milhões de genes que produzem milhares de metabólitos que compõem o metagenoma humano.
Em outras palavras, em termos de genes, os genes encontrados no nosso corpo são mais de 99% microbianos.
É bem provável que os genes do nosso microbioma tenham maior influência sobre a nossa saúde do que os nossos próprios genes.
A análise do metagenoma humano tem proporcionado insights importantes sobre a composição e a função do microbioma intestinal e sua relação com a saúde humana. Por exemplo, pesquisas têm mostrado associações entre alterações no metagenoma intestinal e doenças como obesidade, diabetes tipo 2, doenças inflamatórias intestinais, doenças cardiovasculares e distúrbios neurológicos.
Além disso, a metagenômica tem contribuído para a descoberta de novas espécies microbianas, a identificação de vias metabólicas importantes e a compreensão dos mecanismos de interação entre o microbioma e o organismo hospedeiro.
IMPORTÂNCIA DO MICROBIOMA INTESTINAL
O microbioma desempenha um papel importante na saúde e no funcionamento do nosso organismo. Ele contribui para:
Digestão e metabolismo: As bactérias do intestino auxiliam na decomposição de alimentos complexos que o nosso corpo não consegue digerir sozinho. Elas produzem enzimas que degradam a fibra alimentar e outros componentes não digeríveis, liberando nutrientes que podem ser absorvidos pelo organismo.
Desenvolvimento do sistema imunológico: O microbioma desempenha um papel fundamental no desenvolvimento e regulação do sistema imunológico. A interação entre os microrganismos e as células imunes auxilia na formação de uma resposta imunológica equilibrada e na proteção contra infecções.
Proteção contra patógenos: O microbioma saudável pode competir com microrganismos patogênicos, impedindo sua colonização e crescimento. Essa competição ocorre através da ocupação dos sítios de ligação e da produção de substâncias antimicrobianas que inibem o crescimento de patógenos.
Produção de nutrientes: Algumas bactérias do microbioma têm a capacidade de sintetizar vitaminas e outros nutrientes essenciais que podem ser absorvidos pelo organismo, como a vitamina K e algumas vitaminas do complexo B.
Permeabilidade intestinal: a microbiota intestinal é de extrema importância para a manutenção da permeabilidade intestinal adequada. Quando essa permeabilidade é alterada - hiper permeabilidade intestinal - inúmeras substâncias como antígenos alimentares e substâncias inflamatórias produzidas pela microbiota intestinal podem entrar na corrente sanguínea causando uma resposta inflamatória e auto imune.
Função cerebral: o intestino, junto com o microbioma, interagem com o cérebro e vice versa. Devido a essa interação em uma via de mão dupla, o conjunto do intestino com o microbioma intestinal é atualmente chamado de "Segundo cérebro"
Pesquisas recentes têm sugerido que o microbioma pode auxiliar na evolução de uma ampla gama de condições de saúde, como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares, câncer, Autismo, TDHA, Parkinson e Alzheimer, depressão, ansiedade, doenças auto imunes e, até mesmo, o humor, o comportamento e o aprendizado.
Veja Tambem:
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Ribeiro G, Ferri A, Clarke G, Cryan JF.
Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2022 Nov 1;25(6):443-450.
Brain Res Bull. 2022 May;182:44-56.
National Institutes of Health (NIH)
Xiaoming Bian 1, Liang Chi 2 et all.
Front Physiol. 2017 Jul 24;8:487.
National Institutes of Health (NIH)
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