O consumo de adoçantes vem aumentando a cada ano. Ele pode ser acrescentado nos alimentos para adoçar um chá, um café ou um suco mas, ele já vem embutido em uma infinidade de alimentos industrializados como refrigerantes, sucos, chás, doces, iogurtes, entre outros. É muito interessante, que mesmo em alimentos que não utilizariam açúcar nas receitas feitas em casa, o adoçante é acrescentado para aumentar a palatabilidade como por exemplo, nas batatas fritas com sabor. Eles também são encontrados em diversos medicamentos.
Para dar um exemplo da dimensão dessa utilização, o aspartame - adoçante - é encontrado em cerca de 1.400 produtos alimentícios no mercado francês e em mais de 6.000 em todo o mundo. Da mesma forma, diversos outros adoçantes são largamente utilizados nos alimentos industrializados.
Quase todos os produtos alimentícios rotulados como “light” ou de “baixo teor calórico” também vêm com um acompanhamento de adoçante artificial.
A cada ano, vários estudos científicos vem questionando a segurança da adição desses produtos nos alimentos e mostrando que a utilização desses adoçantes é prejudicial a saúde, estando associados a diversas doenças, entre elas o aumento da incidência de câncer.
ADOÇANTES E CÂNCER - NOVA PESQUISA FRANCESA
Publicada esse ano, uma pesquisa científica realizada com mais de 100 mil franceses, durante um período de sete anos, acompanhados no estudo NutriNet-Santé (2009–2021), aponta que o consumo excessivo de adoçantes artificiais pode aumentar o risco de desenvolvimento de alguns tipos de câncer.
As associações entre os adoçantes e incidência de câncer foram avaliadas neste estudo por modelos de riscos proporcionais ajustados para idade, sexo, escolaridade, atividade física, tabagismo, índice de massa corporal, altura, ganho de peso durante o seguimento, diabetes, história familiar de câncer e ingestão alimentar.
Os participantes que consumiram adoçantes acima da média apresentaram 13% a mais de chances de desenvolver algum tipo de câncer.
Nesse estudo, o aspartame foi associado ao aumento do risco de câncer de mama além de ser relacionado ao aumento da obesidade.
Em estudos anteriores os adoçantes já foram associados a hipertensão, síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e eventos cardiovasculares.
ADOÇANTES E MICROBIOMA
Os adoçantes artificiais podem afetar sua saúde do intestino através das alterações que promovem na microbiota.
Muitas das pesquisas anteriores que demonstraram uma mudança nas bactérias intestinais utilizaram sucralose. Um estudo, descobriu que a sucralose reduziu as bactérias intestinais em um modelo animal em pelo menos 47,4% e aumentou o pH dos intestinos. Outro estudo, descobriu que a sucralose possui um efeito metabólico sobre as bactérias e pode impedir o crescimento de certas espécies.
Em estudos anteriores os pesquisadores mostraram que os substitutos do açúcar fizeram com que bactérias benéficas se tornassem patogênicas. Isso poderia aumentar o risco de problemas de saúde graves e foi o primeiro estudo a demonstrar como dois tipos de bactérias benéficas podem adoecer e invadir a parede intestinal.
Evidências sugerem que os adoçantes artificiais também alteram o microbioma intestinal aumentando o número de bactérias patogênicas e diminuindo o número de bactérias intestinais associadas a saúde física e intestinal, aumentando o risco de câncer, obesidade, diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares.
REAVALIAÇÃO DA SEGURANÇA DOS ADOÇANTES
Essas descobertas fornecem novas informações no contexto da reavaliação em andamento de adoçantes aditivos alimentares pela Autoridade Europeia de Segurança Alimentar - EFSA- e outras agências de saúde em todo o mundo.
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Debras C, et all.
PLoS Med. 2022 Mar 24;19(3):e1003950
The impact of food additives, artificialsweeteners and domestic hygiene products on the human gut microbiome and its fibre fermentation capacity.
Gerasimidis K, Bryden K, Chen X, Papachristou E, Verney A, Roig M, Hansen R, Nichols B, Papadopoulou R, Parrett A.
Eur J Nutr. 2020 Oct;59(7):3213-3230.
Artificial Sweeteners Negatively Regulate Pathogenic Characteristics of Two Model Gut Bacteria, E. coli and E. faecalis.
Shil A, Chichger H.
Int J Mol Sci. 2021 May 15;22(10):5228.
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