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Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

ANTIBIÓTICOS E OBESIDADE – UMA HIPÓTESE INTERESSANTE.

Atualizado: 11 de dez. de 2023



Os antibióticos tratam efetivamente doenças infecciosas há mais de um século, levando a uma redução acentuada na morbimortalidade. No entanto, com o aumento do uso de antibióticos, agora nos deparamos não apenas com a crescente ameaça de resistência a antibióticos, mas também com uma crescente preocupação com os possíveis efeitos a longo prazo dos antibióticos na saúde humana, incluindo o desenvolvimento da obesidade.


No fim da década de 1940, cientistas americanos descobriram por acidente que ministrar antibióticos a frangos aumentava seu crescimento em até 50%. Então, a ração animal passou a conter doses pequenas de antibióticos como fator de crescimento animal. Os antibióticos fazem aumentar a taxa de crescimento dos leitões em cerca de 10% ao dia.


E nos seres humanos, será que o antibiótico poderia também ser responsável por essa epidemia de obesidade que vem se espalhando pelo mundo todo?


A penicilina foi descoberta pelo médico e bacteriologista escocês Alexander Fleming em 1928 e, em 1944 passou a ser usada em humanos. Antes dessa época a obesidade era mais rara e certamente a obesidade mórbida praticamente não existia.


Em 1980, os casos de obesidade começaram a aumentar muito, como se fosse uma verdadeira epidemia de obesidade. A análise das regiões mais acometidas nos USA, nos últimos 35 anos, dá de fato a impressão de uma doença infecciosa se espalhando pelos estados americanos e causando obesidade na população das diversas regiões.


Essa epidemia de obesidade começou nos estados do Sudeste americano em 1980, justamente nos locais aonde haviam os maiores centros de agropecuária superintensiva que haviam passado a usar antibióticos na ração como fator de crescimento animal.


A epidemia de obesidade foi se espalhando para o norte e oeste dos USA, seguindo as regiões aonde o avanço da agropecuária superintensiva era implantada.


Desde 2016 a União Europeia proibiu a utilização de antibióticos como promotores de crescimento animal. Mas, o uso do antibiótico continuou permitido para curar as doenças dos animais. Nos países desenvolvidos, atualmente, existem regras proibindo o abate de animais que tomaram antibióticos recentemente para evitar a contaminação de humanos com esses antibióticos.


Nas plantas, adubadas com esterco de animais tratados com antibióticos, o antibiótico também é encontrado.


O Brasil é o terceiro maior usuário de antibióticos na produção animal, atrás de China e EUA. Nos USA, embora o antibiótico não seja mais usado oficialmente como fator de crescimento, ele continua sendo utilizado no tratamento das doenças dos animais. Cerca de 70% dos antibióticos produzidos nos USA são para uso animal.


A maior quantidade de antibióticos é usada em suínos, seguida pelos ovinos e bovinos. Nos peixes criados em cativeiro os antibióticos também são usados.


Entretanto, se considerarmos a quantidade de antibiótico usado por quilograma de carne produzida, o Brasil estaria na faixa de 35-50 mg por kg, enquanto na maior parte dos países europeus está entre 150-450 mg, ou seja, quase dez vezes mais. O uso de antibióticos nas diferentes regiões do mundo é variável, com os países mais desenvolvidos usando maiores quantidades.


Nas análises do microbioma fecal realizados nos USA pelo Gut Project, foram encontrados antibióticos nas fezes de pessoas que referiram não tomar antibióticos para tratamentos de doenças há mais de 2 anos. Esses antibióticos nas fezes são originários da alimentação, principalmente do consumo de animais que receberam tratamentos antibióticos durante o período de criação.


Além da utilização dos antibióticos nos animais, existe um consumo muito elevado de antibióticos no tratamento das doenças infecciosas ao longo da vida de grande parte das pessoas.


Em 2005 os USA produziram 23.000 toneladas anuais de antibióticos. Na Grã Bretanha as mulheres fazem cerca de 70 tratamentos antibióticos no decorrer da vida. Na Europa 40% das pessoas tomaram antibiótico nos últimos 12 meses.


No adulto os antibióticos chegam a afetar a composição das bactérias intestinais por mais de 2 anos, matando bactérias benéficas e permitindo a proliferação das bactérias nocivas, diminuindo a variedade das espécies bacterianas do microbioma que é uma das características mais associadas a saúde.


Cerca de um terço de todos os antibióticos prescritos por médicos são consumidos por crianças. Nos Estados Unidos, há uma taxa anual de novecentos tratamentos com antibiótico para cada mil crianças. As crianças espanholas tomam 1.600 séries de antibioticoterapia por cada mil crianças ao ano.


Os antibióticos nos primeiros anos de vida podem comprometer a formação de um microbioma adequado, o que é muito importante para a formação do microbioma ao longo de todas as etapas da vida.





Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.



Para saber mais:


Frango sem antibióticos:

Korin (dispõem de uma linha de frango e carne de vaca sem antibióticos)

Sadia


Carta Insumos - Antibióticos na produção animal: Restrições à vista?

Maruvada P, Leone V, Kaplan LM, Chang EB.

Cell Host Microbe. 2017 Nov 8;22(5):589-599. Antibiotics, gut microbiome and obesity.

Leong KSW, Derraik JGB, Hofman PL, Cutfield WS.

Clin Endocrinol (Oxf). 2018 Feb;88(2):185-200.

Singer-Englar T, Barlow G, Mathur R.Expert.

Rev Gastroenterol Hepatol. 2019 Jan;13(1):3-15.


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