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Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

AUTISMO - IMPORTÂNCIA DO EQUILÍBRIO GASTRO INTESTINAL.

Atualizado: 13 de abr. de 2024

O transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição complexa cuja patogênese pode ser atribuída a interações gene-ambiente. Não há mecanismos definitivos que expliquem como os gatilhos ambientais podem levar ao TEA, embora a inflamação, as alterações da imunidade e as alterações da função mitocondrial estejam presentes na maioria dos casos. O tráfego inadequado de antígenos e de substâncias tóxicas através da barreira intestinal prejudicada, seguido pela entrada desses antígenos no cérebro, através da passagem desses antígenos ou complexos imunoativos por uma barreira hematoencefálica (membrana que regula a entrada de substâncias no cérebro) permissiva pode fazer parte da cadeia de eventos que causa ou agrava esses distúrbios.

Estudos mostraram um aumento da produção de citocinas inflamatórias e a disseminação na corrente sanguínea de uma potente endotoxina pró-inflamatória, o lipopolissacarídeo (LPS). Níveis elevados de LPS em indivíduos autistas correlacionaram-se com níveis elevados de IL-6, outra citocina pró-inflamatória. A inflamação compromete ainda mais a integridade da barreira hematoencefálica, facilitando o acúmulo de metais pesados ​​no cérebro e agravando os sintomas. Essas substâncias inflamatórias tem importante influência na modulação do sistema nervoso central, alterando a atividade de áreas responsáveis pelo controle emocional e pela síntese de neuropeptídeos.


Uma grande porcentagem dos autistas - cerca de 70% - tem sérios problemas gastro intestinais e a recuperação da saúde intestinal é fundamental, devido as interações entre o cérebro, sistema imune e intestino.


As anormalidades gastrointestinais encontradas em crianças autistas incluem má absorção, má digestão, supercrescimento microbiano (fúngico, bacteriano e viral), permeabilidade intestinal anormal e alterações da flora intestinal. Esses eventos podem causar sintomas como diarreia, constipação, gases, arrotos, dor abdominal, refluxo gastro esofágico e alimentos visivelmente não digeridos.


Uma das formas para equilibrar do Sistema Gastro Intestinal é “Programa 6 R’s” : Remover, Reparar, Recolocar, Reinocular, Reequilibrar e Reavaliar.


1. REMOVER:
  • Alimentos responsáveis por alergias e intolerâncias alimentares. Os alimentos mais frequentemente associados as alterações de permeabilidade intestinal e associados a respostas imune alterados são o leite, glúten e a soja e seus derivados. Os exames laboratoriais podem auxiliar a detectar os alimentos envolvidos.

  • Patógenos - bactérias, virus ou fungos nocivos que interferem com o metabolismo gastro intestinal.

  • Xenobióticos:

    • Plásticos -embalagens, filmes plásticos e potes utilizados para guardar os alimentos. Não aquecer os alimentos no micro ondas em potes plasticos devido a liberação de bisfenol A (BPA) que ocorre quando um plástico é aquecido. Preferir panelas de inox ou cerâmica. Não usar panelas de alumínio, com revestimento tefal ou de ferro. Ao comprar uma panela ou frigideira com revestimento interno, verificar se ela tem um selo que garanta não conter substâncias tóxicas.

    • Corantes,

    • Toxinas,

    • Aditivos alimentares,

    • Adoçantes,

    • Agrotóxicos,

    • Inseticidas,

    • Produtos a base de cloro usados na higienização das verduras e frutas,

    • Produtos de limpeza - enxaguar bem a louça ao lavar para não sobrar restos de produtos de limpeza

    • Fármacos como antibióticos que podem estar presentes principalmente nos produtos de origem animal. Atualmente algumas marcas oferecem ovos, carne de vaca e frango orgânicos e sem antibióticos.

  • Alimentos inflamatórios, como o açúcar e os ultra processaods, que favoreçam o supercrescimento de bactérias e fungos nocivos


2. REPARAR:
  • Oferecer ao intestino todos os nutrientes necessários à recuperação do epitélio intestinal à partir da inclusão de alimentos não irritativos, ou seja, hipoalergênicos, ricos em nutrientes e compostos bioativos (fitoquímicos).

  • Se necessário introduzir suplementos que auxiliem na recuperação do epitélio intestinal que complementem a alimentação como: glutamina, vitaminas e minerais e Omega 3 (isento de BPA e mercúrio),

  • Introduzir alimentos saudáveis como frutas, verduras e legumes, ricos em nutrientes e fibras. Procure oferecer alimentos de cores variadas.

  • Retirar da alimentação os alimentos ultraprocessados e diminuir os processados priorizando os alimentos naturais.

  • Reduzir a quantidade de açúcar. Não utilizar adoçantes.

  • Sempre que possível utilizar alimentos orgânicos

  • Usar temperos naturais, feitos em casa.

  • Não usar alimentos que contenham monoglutamato como temperos prontos, Ajinomoto, sazon, caldo de carne ou legumes industrializados - verificar sempre os ingredientes para ter certeza que não contem o monoglutamato.

  • Preferir o azeite de oliva extra virgem no preparo dos alimentos.

  • Além da alimentação saudável, muitos fitoterápicos podem auxiliar na redução das bactérias e fungos nocivos da flora intestinal.


3. REPOR:

  • Reposição de enzimas digestivas e otimização da secreção de ácido clorídrico nos casos em que a digestão esteja comprometida por deficiência da digestão dos alimentos.


4. REINOCULAR:

  • Introduzir uma alimentação rica em fibras prebióticas para alimentar as bactérias benéficas da flora intestinal

  • Se necessário utilizar os prébióticos como FOS (fruto oligo sacárides), Fibregum, inulina e outros ativos importantes para a alimentação da microflora intestinal o que permite o crescimento de um microbioma intestinal saudável.

  • Aumentar o aporte de bactérias benéficas ao intestino utilizando:

    • Alimentos fermentados como chucrute, pepinos, batatas e cebolinhas,

    • Keffir de água ou de leite,

    • Kombucha,

    • Além disso, quando necessário, reinocular próbióticos em cápsulas que contenham cepas variada de acordo com a necessidade de: Bifidobacterium de espécies variadas, Lactobacillus de espécies variadas, Estreptococus thermophilus, Enterococcus faecium, Saccharomyces boulardii entre outros.


5. REEQUIBRAR:
  • Gerenciamento do estresse, a ansiedade e o sono são passos muito importantes, porque o intestino e o cérebro se relacionam em uma via de mão dupla, ou seja, tanto o que ocorre no intestino influencia o cérebro, quanto o estresse, a falta de sono e a ansiedade afetam a recuperação intestinal. O sistema nervoso central é capaz de alterar a composição da microbiota e alterar o equilíbrio na permeabilidade intestinal, modulando a motilidade e a secreção por meio da ativação do eixo hipotálamo hipófise-adrenal, sistema autônomo e neuroendócrino com impacto imediato na microbiota intestinal


6. REAVALIAR:
  • A recuperação intestinal é um processo longo que necessita de um acompanhamento constante da evolução para que os ajustes necessários sejam feitos.

  • A alimentação, saudável rica em fibras, precisa ser mantida para que o microbioma se mantenha estável.





Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.



Para saber mais:


Ristori MV, Quagliariello A, Reddel S, Ianiro G, Vicari S, Gasbarrini A, Putignani L.

Nutrients. 2019 Nov 18;11(11):2812


Teskey G, Anagnostou E, Mankad D, Smile S, Roberts W, Brian J, Bowdish DME, Foster JA.

J Neuroimmunol. 2021 Aug 15;357:577607

Mangiola F, Ianiro G, Franceschi F, Fagiuoli S, Gasbarrini G, Gasbarrini A.

World J Gastroenterol. 2016 Jan 7;22(1):361-8.


Srikantha P, Mohajeri MH

.Int J Mol Sci. 2019 Apr 29;20(9):2115.


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