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  • Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

AUTISMO NAS MENINAS E MULHERES.

Atualizado: 13 de abr.

O autismo (TEA) é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta segundo os estudos epidemiológicos 4 vezes mais meninos do que meninas. Mas, pode estar ocorrendo uma sub detecção de autismo nas mulheres por elas apresentarem um quadro clínico diferente dos homens.


As taxas de autismo em meninas aumentaram constantemente nos últimos anos. Mas, à medida que mais mulheres são diagnosticadas na idade adulta, alguns se perguntam quantas meninas não foram diagnosticadas.


Diferenças na apresentação clínica entre os sexos.

1. As meninas, em comparação com os meninos, conseguem:

  • Apresentar uma motivação e desejo social maior, com melhora das habilidades em reciprocidade social,

  • A coordenação entre a comunicação verbal e não verbal costuma ser mais integrada,

  • Contato visual mais apropriado,

  • Jogo simbólico - brincadeiras de faz de conta - e interesses mais preservados,

  • Comportamentos sociais menos restritos e repetitivos,

  • As meninas têm mais amigos, embora ainda em pequeno número, mas à medida que crescem, são progressivamente ignoradas e começam a permanecer mais isoladas no grupo.

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2. As diferenças na apresentação do autismo entre os gêneros masculino e feminino, refletem as diferenças na motivação social entre aqueles sem autismo:
  • A motivação social é mais afetada em homens com autismo do que naqueles sem autismo e do que em meninas/mulheres com e sem autismo, mas as diferenças na motivação social de mulheres com autismo não diferem significativamente da motivação social dos homens sem autismo. Esta particularidade significa que existem diferenças significativas entre a cognição social, sendo o homem com autismo geralmente mais afetado do que o comportamento social visível em meninas/mulheres autistas.

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3. Diferenças nas expectativas sociais e culturais relacionadas ao gênero.
  • As meninas usam com mais frequência jogos e situações verbais para interagir, enquanto os meninos interagem mais frequentemente com jogos físicos, portanto, as dificuldades psicomotoras e as dificuldades em participar de jogos em grupo das crianças com autismo se manifestam mais claramente no menino.

  • Os meninos tem sintomas diagnósticos e a apresentação mais clássica do autismo, sendo reconhecidos com mais frequência.

  • As meninas com autismo são interpretadas por adultos como tímidas ao invés de considerar que apresentam déficits em suas habilidades sociais e de comunicação, déficits que variam tornando-se mais evidente à medida que crescem.

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4. Diferenças na cognição social relacionadas ao gênero:
  • No gênero feminino geralmente há menos inflexibilidade cognitiva, relacionada a menos presença de comportamentos não funcionais repetitivos.

  • As meninas/mulheres em comparação com meninos com autismo têm memória autobiográfica, empatia e teoria da mente - capacidade de compreender os estados mentais como sentimentos, desejos, crenças e intenções dos outros e de si mesmo - melhor preservadas.

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5. Diferenças relacionadas ao gênero na comorbidade do autismo:
  • Hiperatividade, distúrbios de conduta e dificuldades na linguagem expressiva preferencialmente associado ao autismo nos meninos,

  • As meninas, pelo contrário, apresentam alterações emocionais e distúrbios alimentares associados ao autismo, com mais frequência do que os meninos.

  • Os estudos mostraram que as mulheres que mostram maior atenção aos detalhes foram menos diagnosticadas precocemente ou receberam um diagnóstico inadequado, tendo sido confundido com outros transtornos de saúde mental, como transtorno obsessivo-compulsivo ou um transtorno alimentar.

  • Erros de diagnóstico nas meninas e, a confusão do autismo com outros distúrbios, ocorrem devido as diferentes manifestações clínicas que ocorrem nas mulheres.

  • As meninas tem uma maior chance de receber um diagnóstico tardio ou falha em receber um diagnóstico de autismo, por apresentarem menos sintomas considerados clássicos do autismo. Elas apresentam sintomas mais sutis do que os meninos.

  • O autismo no gênero feminino apresenta características clínicas, cognitivas e biológicas diferentes que são associadas à sub detecção e ao diagnóstico tardio.


6. Camuflagem ou compensação, mascaramento e dissimulação dos sintomas do autismo:
  • Mais presentes no gênero feminino do que masculino,

  • O sexo feminino controla com mais frequência os sintomas do autismo em grupos sociais, utilizando técnicas de imitação e acomodação verbal como forma de esconder suas diferenças e simular o padrão de suas companheiras,

  • Fingir ser "normal" pressupõe aprender as expressões faciais observando outras pessoas, vídeos e seus personagens favoritos da televisão,

  • Elas reprimem com mais facilidade seus comportamentos estereotipados, forçando o contato visual e usando repertórios verbais aprendidos ou respostas não-verbais.

  • Na menina é necessário tentar entender essa tentativa de camuflar seus sintomas de autismo a partir de uma camuflagem.

  • A tentativa de esconder suas características de autismo tem sido associada a um aumento de problemas de saúde mental e aqueles que usam mecanismos compensatórios cognitivos em suas interações sociais têm mais frequentemente uma capacidade intelectual maior.

  • A camuflagem é um processo consciente e inconsciente que meninas e mulheres com autismo usam para se integrar no grupo social de sua idade e que é descrito por eles como um processo desgastante, mas também com conquistas sociais e acadêmicas positivas à custa de grande sofrimento emocional.

  • A camuflagem resulta em perda de identidade, medo de ser descoberto como uma consequência negativa, mas em alguns casos também pode melhorar a conexão com pessoas como resultado positivo.

7. Testes padronizados usados ​​no diagnóstico de autismo têm menor confiabilidade
no gênero feminino.
  • As meninas com autismo conseguem camuflar os sinais visíveis de autismo durante os primeiros 45-60 minutos de uma avaliação ou teste.

8. Padrões de identificação de comorbidade associados ao autismo estão relacionados à variabilidade na proporção de meninos e meninas que são diagnosticados de acordo com a idade:
  • Na primeira infância quando os sintomas do autismo são mais graves e, especialmente, quando estão associados a atrasos no desenvolvimento, deficiência intelectual e epilepsia, é quando a relação meninos-meninas é mais homogênea. Nestes casos é maior a probabilidade de identificar e diagnosticar o autismo,

  • Na idade infantil, quando a alfabetização e conceitos básicos de matemática são ensinados, os sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade tendem a ser mais manifestos e são comorbidades preferencialmente associadas ao sexo masculino. Nesse caso, o autismo é detectado associado à comorbidades com o TDAH e, a proporção de meninos em relação às meninas é maior,

  • No ensino médio os diagnósticos de autismo em meninas adolescentes começam a aumentar devido a serem mais propensas a desenvolver quadros emocionais, comportamentos autolesivos ou instabilidade emocional. Nestes casos, muitas vezes os sintomas são confundidos com os de deficiência intelectual.

  • As adolescentes são também mais propensas a distúrbios alimentares como episódios bulímicos, como mecanismos de regulagem emocional. A rigidez cognitiva pode estar associada a distúrbios alimentares como a anorexia nervosa atípica, ou exercícios extremos ou meta de peso incompatível com a vida, mas sem distorções de sua imagem corporal.

  • O desenvolvimento de sua própria identidade em mulheres adolescentes com autismo é mais comumente afetado, relacionado a dificuldades de percepção, emocional e cognitiva. As dificuldades no processo de identificação pessoal, afetiva e sexual são frequentes. Uma variabilidade maior na identidade de gênero e um aumento das disforia de gênero é mais comum no gênero feminino.

  • Maior atenção deve ser dada aos casos diagnosticados com transtornos de personalidade, especialmente com transtornos de personalidade borderline em adolescentes e adultas do sexo feminino.

  • Situações traumáticas de tudo tipo, especialmente de natureza afetiva e sexual, ocorrem com mais frequentemente no autismo em mulheres. As vezes por medo ou falta de compreensão do ocorrido, pode não contar aos adultos o acontecido e episódios de stress pós-traumático nestes casos são frequentes.



Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.



Para saber mais:


Hervás A.

Medicina (B Aires). 2022 Feb 2;82 Suppl 1:37-42.

Rynkiewicz A, Janas-Kozik M, Słopień A.

Psychiatr Pol. 2019 Aug 31;53(4):737-752.


Rynkiewicz A, Łucka I.Psychiatr Pol. 2018 Aug 24;52(4):629-639.

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