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  • Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

AUTISMO NO ADULTO - A PONTA DE UM ICEBERG.

Atualizado: 13 de abr.

Os casos de autismo no adulto vem aumentado muito. Tenho visto no consultório algumas pessoas que sentem depressão, ansiedade e síndrome do pânico, tratados com medicações variadas sem muito efeito. Muitas vezes chegam a pensar em suicídio. São pessoas que sofreram a vida toda as limitações sociais do autismo que interferem em todos os aspectos da vida.


Há mais de 30 anos tenho observado os pais e parentes de crianças autistas. Muitos desse adultos tem características importantes de autismo mas, de alguma forma, conseguiram lidar de forma eficaz com esses aspectos. Outros, evidentemente, não lidam tão bem. E, recentemente vemos cada vez mais adultos no espectro autista. Mas, eles ainda são muito poucos se considerarmos o número esperado baseados nos dados do CDC - Center of Disease Control - USA.


Há 20 anos atrás as formas graves de autismo eram mais frequentemente diagnosticadas, mas as formas leves de autismo passavam desapercebidas. Muitas pessoas com autismo passaram a vida com diagnósticos como depressão, ansiedade, introversão, dificuldade de aprendizado, déficit de atenção e hiperatividade entre outros. E, essas pessoas cresceram sem acesso as terapias necessárias para seu desenvolvimento.


Os adultos que estão recebendo o diagnosticados de autismo são a ponta de um Iceberg que começa a ficar mais evidente nos últimos anos.


Autismo no sexo feminino - um capítulo a parte

Na infância o maior número de casos ocorre no sexo masculino. O autismo no sexo feminino se manifesta de forma diferente, mais sutil, principalmente em meninas e mulheres de alto funcionamento, ou seja, aquelas com fala fluente, quociente de inteligência médio ou acima da média. Além disso, as mulheres vem demonstrando maior capacidade compensatória e desenvolvem métodos sofisticados de 'camuflagem' e mascaramento do autismo o que dificulta sobremaneira o diagnóstico. Além disso, o autismo em mulheres está associado a alta comorbidade durante a adolescência, incluindo transtorno de ansiedade, transtorno de tiques, depressão, alta incidência de suicídio, transtornos alimentares e altas taxas de outros problemas médicos.


As dificuldades sensoriais podem afetar diversos aspectos da sexualidade na mulher autista. Mulheres com autismo são vulneráveis ​​por causa de sua ingenuidade social e outras dificuldades devido ao autismo. Elas são propensas ao abuso sexual e estupro e, por isso, precisam de maior apoio terapêutico daqueles que trabalham com essa população. Muitas mulheres com autismo de alto funcionamento são apaixonadas por uma variedade de tópicos e também podem ter interesses intensos. No entanto, os temas podem não estar tradicionalmente ligados ao autismo. Elas podem se interessar por temas diversos como: literatura, artes, línguas, comportamento humano ou animal, psicologia, educação especial, fonoaudiologia, medicina, moda, cosméticos.


Mulheres com autismo podem se tornar profissionais de sucesso e são reconhecidas como especialistas de alto nível em seu campo, e normalmente a área de seu interesse ou especialização se torna o campo de seu emprego. No entanto, as mulheres com autismo muitas vezes lutam para manter um emprego de longo prazo, a menos que o apoio apropriado seja fornecido. As dificuldades advêm do estresse devido às nuances e complexidades sociais no local de trabalho, mas também da sobrecarga sensorial que experimentam e que decorrem de seu autismo.


Depressão e ansiedade

A depressão maior não é incomum para pessoas no espectro, de acordo com uma meta-análise de 66 estudos publicados em 2018: os autistas são quatro vezes mais propensos do que os neurotípicos a experimentar depressão ao longo de suas vidas. Suas taxas de depressão aumentam com a inteligência e com a idade.


As consequências da depressão em pessoas autistas podem ser terríveis. Ela pode prejudicar gravemente as habilidades necessárias para o enfrentar as dificuldades da vida diária, as interações sociais e a comunicação, agravando diversas situações já desafiadoras para um autista.


Os quadros de autismo leve, as dificuldades no relacionamento social dificultam as relações profissionais e pessoais como: ter amigos, um companheiro e filhos. Essas pessoas podem se destacar em suas profissões que geralmente são de pouco ou nenhum contato social como escritores, informática ou outras profissões que tem no online seu ponto forte.


Muitas vezes, por sentir que "não se encaixa" , por perceber que "é diferente", a pessoa começa a ter seu quadro agravado e apresentar uma diminuição da auto estima que vai piorando com o tempo. O bullying e o isolamento que sofrem durante o período escolar contribuem para agravar essa sensação de ser diferente e causar piora nos quadros emocionais que podem se estender por toda a vida se não tratados.


No casamento e com os filhos as dificuldades aparecem pela dificuldade que alguns autistas tem de não aceitar o toque, os abraços e outras manifestações físicas de afeto. Mesmo expressar os sentimentos no cotidiano pode ser muito difícil.


O diagnóstico de autismo é sem dúvida um benefício e traz um grande alívio podendo trazer uma grande melhora na qualidade de vida - finalmente as dificuldades sociais são esclarecidas e novas terapias mais específicas, aonde aprende a lidar com as situações do cotidiano, podem auxiliar na melhora emocional.







Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.


Para saber mais:

Chloe C. Hudson, Layla Hall & and Kate L. Harkness

Journal of Abnormal Child Psychology, volume 47, pages165–175 (2019)


Anxiety and depression in adults with autism spectrum disorder: a systematic review and meta-analysis.Hollocks MJ, Lerh JW, Magiati I, Meiser-Stedman R, Brugha TS.Psychol Med. 2019 Mar;49(4):559-572.


Rynkiewicz A, Janas-Kozik M, Słopień A.Psychiatr Pol. 2019 Aug 31;53(4):737-752.

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