A epidemiologia do câncer colorretal mudou nas últimas décadas: embora a incidência em grupos etários mais velhos tenha mostrado sinais de estabilização ou declínio, houve um aumento de novos casos entre indivíduos com menos de 50 anos em todo o mundo – ou seja, câncer colorretal de início precoce. Esse aumento vem ocorrendo particularmente em países de alta renda.
O câncer colorretal é o terceiro câncer mais comum em todo o mundo, com 1,8 milhão de novos casos e a segunda causa mais comum de morte por câncer. No Brasil atinge mais de 36 mil homens e mulheres por ano, ou seja: a cada dia cerca de 100 brasileiros recebem o diagnóstico da doença.
A hereditariedade responde por 5% a 10% dos casos de câncer colorretal. A maioria ocorre devido a componentes ambientais, como a dieta. Devido ao papel da dieta na modulação da microbiota, a ligação entre microbiota e o câncer colorretal é muito mais tangível do que em outros tumores.
Embora as razões para o aumento dos casos de câncer coloretal permaneçam desconhecidas, as hipóteses plausíveis incluem a maior exposição a potenciais fatores de risco, como:
Dieta no estilo ocidental rica em carnes processadas e carne vermelha,
Maior consumo de álcool,
Obesidade,
Sedentarismo,
Doença inflamatória intestinal,
Histórico familiar de câncer de colon,
Uso de antibióticos, especialmente no período que vais desde o pré-natal até a adolescência.
PAPEL DO MICROBIOMA INTESTINAL NO CANCER DE COLORRETAL
Pesquisadores da USP e da Universidade de Trento analisaram o microbioma fecal de 969 amostras fecais de pessoas com câncer colorretal, de portadores de adenomas (pólipos benignos e malignos) e de indivíduos controle, isto é, saudáveis, para comparação. Neste estudo 16 microorganismos foram associados ao câncer colorretal e sua presença nas fezes têm um poder preditivo para a doença.
Os cientistas rastrearam as vias de fermentação e putrefação das bactérias que transformam ácidos biliares – que fazem parte dos nossos sucos digestivos - em produtos de seu metabolismo que têm poder cancerígeno. Certas classes de bactérias degradam a colina - nutriente presente na carne, ovos e outros alimentos – e o transformam em um metabolito potencialmente perigoso já associado a doenças cardiovasculares e, agora, ao câncer de cólon e reto.
Esses estudos mostram a importância da manutenção de um microbioma intestinal associado a um intestino mais saudável. Certamente a alimentação orgânica, rica em fibras, frutas, legumes e grãos tem um papel primordial na obtenção de um microbioma intestinal associado a prevenção do câncer de colon intestinal.
A utilização de prébióticos e próbióticos, associados a alimentação adequada, pode auxiliar na melhora da composição do microbioma intestinal e na prevenção do câncer de intestino.
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
The rising tide of early-onset colorectal cancer: a comprehensive review of epidemiology, clinical features, biology, risk factors, prevention, and early detection.
Patel et ai.
Lancet Gastroenterol Hepatol. 2022 Mar;7(3):262-274.
A comprehensive framework for early-onset colorectal cancer research Eng et ai. Lancet Oncol. 2022 Mar;23(3):e116-e128.
Rising incidence of early-onset colorectal cancer - a call to action.Akimoto N, Ugai T, Zhong R, Hamada T, Fujiyoshi K, Giannakis M, Wu K, Cao Y, Ng K, Ogino S.Nat Rev Clin Oncol. 2021 Apr;18(4):230-243.
Exploring the Role of Gut Microbiome in Colon Cancer.Chattopadhyay I, Dhar R, Pethusamy K, Seethy A, Srivastava T, Sah R, Sharma J, Karmakar S.Appl Biochem Biotechnol. 2021 Jun;193(6):1780-1799
Andrew Maltez Thomas et all.
Nat Med . 2019 Apr;25(4):667-678.
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