O Clostridium difficile é uma bactéria que está naturalmente presente na flora intestinal de cerca de 3% dos adultos e 66% das crianças. Em condições normais, a microflora intestinal inibe o crescimento de Clostridium difficile. Ele se torna agressivo em pessoas com desequilíbrios do microbioma intestinal ou com a resposta imune diminuída.
O Clostridium difficile uma bactéria gram-positiva, anaeróbia estrita, e formadora de esporos, responsável por diarreia infecciosa e colite pseudomembranosa com significativa morbidade e mortalidade.
O Clostridium difficile é responsável por 300.000 casos de infecção na América do Norte e a mais de 25.000 mortes a cada ano.
Ele pode produzir as toxinas A e B, sendo que a B está sempre presente nos casos em que as toxinas são produzidas. Ambas toxinas compartilham um mecanismo de ação molecular comum que leva à morte celular e estimula uma cascata inflamatória que agrava os danos nos tecidos, a diarreia e a colite pseudomembranosa. Uma terceira toxina patogênica, a toxina binária aumenta a virulência de Clostridium difficile.
MICROBIOMA
O intestino grosso possui no seu microbioma cerca de 4.000 espécies bacterianas diferentes que protegem o intestino da invasão de bactérias nocivas devido a competição por nutrientes essenciais e locais de fixação na parede intestinal. Antibióticos e diversos outros fatores agridem a flora protetora diminuindo a resistência à colonização pelas bactérias nocivas, proporcionando assim um nicho para a colonização do Clostridium difficile. A redução dos filos Bacteróidetes e Firmicutes causada pelos antibióticos parece ser particularmente importantes na colonização do intestino pelo Clostridium difficile.
APRESENTAÇÃO CLÍNICA
A apresentação clínica do Clostridium difficile varia em um amplo espectro, indo do portador assintomático que é a pessoa que embora não apresente nenhum sintoma da doença pode transmiti-la, passando por um quadro diarreico de vários graus de intensidade, chegando a colite membranosa e ao megacólon tóxico que são doenças graves com alta taxa de mortalidade.
VIAS DE CONTÁGIO
Por muito tempo se acreditou que a contaminação pelo era restrita a ambientes hospitalares. Agora, com os exames do sequenciamento do microbioma que permitiram uma melhor compreensão do microbioma intestinal, foi constatado que apenas 35% dos casos são adquiridos no ambiente hospitalar.
Outra via de contágio importante é a via alimentar, principalmente através de carnes e frutos do mar contaminados, pois o clostridium pode sobreviver ao processo de cozimento. As fontes de origem vegetal se devem a irrigação e adubagem contaminada. O contágio pode se dar também através da água contaminada.
O contágio fecal oral pode se dar de uma pessoa contaminada a outra. Este contágio geralmente ocorre através de doentes assintomáticos que, através das mãos contaminadas, propagam a infecção. Uma vez ingerido ele se instala no cólon e ceco e inicia a produção de toxinas.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da infecção por Clostridium difficile baseia-se na presença de sinais e sintomas típicos, além da identificação do Clostridium difficile e de suas toxinas nas fezes .
Na colonoscopia pode haver colite pseudomembranosa.
TRATAMENTO
Inicialmente é necessário suspender o uso dos antibióticos que causaram a alteração do microbioma intestinal e através da reposição de lactobacillus e fibras adequadas restaurar o microbioma.
A terapia probiótica e prebiótica é outra estratégia para restaurar a microbiota colônica que vem sendo investigada há muitos anos como terapia para tratar ou prevenir a infecção pelo Clostridium difficile. Alguns estudos que acompanharam pacientes com Clostridium difficile em uso de Lactobacillus acidophilus L casei e L rhamnosus apresentaram bons resultados.
Além disso, muitas vezes o uso de antibióticos específicos para o combate do Clostridium difficile é necessário.
Em casos de difícil tratamento o transplante fecal tem sido realizado nos USA com uma taxa de sucesso de 90%. O transplante fecal está se tornando o tratamento preferido para pacientes com múltiplas recorrências de infecção por Clostridium difficile.
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Peng Z, Ling L, Stratton CW, Li C, Polage CR, Wu B, Tang YW.Emerg Microbes Infect. 2018 Feb 7;7(1):15
Burke KE, Lamont JT. Gut Liver. 2014 Jan;8(1):1-6.
Dissemination of Clostridium difficile in food and the environment: Significant sources of C. difficile community-acquired infection?
K Warriner et all.
J Appl Microbiol. 2017 Mar; 122 (3): 542-553.
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