A degeneração macular relacionada à idade (DMRI) é uma doença que ocorre em uma parte da retina chamada mácula e que leva a perda progressiva da visão central. A DMRI é a causa mais comum de perda da visão em pessoas acima de 50 anos.
Em algumas pessoas, a degeneração macular relacionada à idade (DMRI) avança tão lentamente que as alterações da visão são imperceptíveis por muito tempo. Com a progressão da degeneração macular, um dos sintomas comuns é a presença de uma área desfocada ou borrada perto do centro da visão. Ao longo do tempo, essa área pode aumentar ou desenvolver manchas brancas. Os principais sintomas da DMRI são:
Visão borrada ou manchas no centro da visão, o que pode dificultar ler, costurar, cozinhar, reconhecer rostos e dirigir;
Necessidade de iluminação mais intensa para enxergar;
Linhas retas parecem distorcidas, embaçadas ou ausentes;
Diminuição da sensibilidade aos contrastes de luz ou dificuldade de adaptação ao escuro;
Alterações na aparência das cores, que parecem menos vivas ou brilhantes.
Alguns fatores podem ser associados a DMRI:
Idade;
Predisposição genética;
Exposição à luz solar;
Hipertensão;
Obesidade;
Ingestão de grandes quantidades de gorduras e dietas pobres em frutas e verduras;
Tabagismo (cigarro).
Fitoquímicos, plantas medicinais e / ou suplementos de dieta vegetal podem ser um auxiliar útil na prevenção ou tratamento da DMRI devido às suas propriedades antioxidantes e anti-fator de crescimento endotelial vascular. Entre eles se destacam:
AÇAFRÃO
O Crocus sativus L. (Iridaceae) ou açafrão, tem sido usado como um medicamento fitoterápico desde os tempos antigos. Nos últimos 10 anos, evidências crescentes mostraram potenciais aplicações terapêuticas no sistema nervoso central, incluindo a DMRI, pela sua ação neuroprotetora, antioxidante, anti-inflamatória e anti apoptótica.Na DMRI os pesquisadores encontraram também um aumento da oxigenação e do fluxo sanguíneo da retina, que são 2 fatores importantes na proteção contra a DMRI. Alguns autores levantaram a hipótese do açafrão apresentar também efeitos epigenéticos na DMRI.
GINGKO BILOBA
Os benefícios terapêuticos dos extratos de ginkgo (Ginkgo biloba L., Ginkgoaceae) são conhecidos há muito tempo, com uma longa história de uso na medicina tradicional chinesa. Mais recentemente, estudos experimentais e clínicos revelaram os benefícios potenciais do ginkgo para uma ampla gama de condições patológicas, incluindo atividades neuroprotetoras, antioxidantes, com redução da agregação plaquetária e melhora do fluxo sanguíneo. Devido a esses mecanismos de ação seu uso foi proposto na DMRI.
Em relação à sua composição química, dois grupos principais de metabólitos bioativos são considerados responsáveis pelos efeitos medicinais do ginkgo: lactonas de terpeno e bioflavonóides.
Estudos clínicos preliminares investigaram a eficácia dos extratos do ginkgo boloba, incluindo dois ensaios clínicos randomizados com efeitos positivos na visão em pacientes com DMRI. Mais pesquisas sobre a eficácia clínica do ginkgo na DMRI precisam ser realizadas.
MIRTILOS e OUTROS BERRIES
Extratos de frutas silvestres contendo antocianinas se tornaram bastante populares nos últimos anos entre os pacientes com DMRI. Eles contêm uma variedade de compostos fenólicos, incluindo flavonóis (quercetina, catequinas), taninos, elagitaninos e ácidos fenólicos. No entanto, as antocianinas são de longe a maior contribuição para sua mistura fitoquímica.
Os mecanismos de ação por trás do efeito benéfico aos olhos não são completamente compreendidos. A capacidade de melhorar o fornecimento de oxigênio e sangue ao olho, e suas potentes propriedades antioxidantes e eliminadoras de radicais livres, sugerem um benefício potencial para a DMRI. Além disso, como comprovado há muito tempo, os antocianósidos têm afinidade com a área do epitélio pigmentado da retina, a porção da retina responsável pela visão e ajustes para claro e escuro.
CÚRCUMA
A curcumina é o principal curcuminóide ativo extraido do rizoma seco de Cúrcuma longa L, (Zingiberaceae).
Vários pesquisadores demonstraram os efeitos benéficos da curcumina em doenças oculares, como uveíte anterior crônica, retinopatia diabética, glaucoma, DMRI e síndrome do olho seco. Ela exerce propriedades anti-inflamatórias, antitumorais, antioxidantes e antiangiogênicas por meio da modulação de vários mediadores bioquímicos.
Também foi demonstrado que o extrato de cúrcuma e seus curcuminóides fornecem proteção significativa contra danos foto-oxidativos e apoptose em células epiteliais pigmentares da retina humana.
CAROTENOIDES
Os carotenóides são moléculas relativamente complexas incluídas no grupo dos pigmentos lipossolúveis alaranjados, amarelos e vermelhos sintetizados por plantas, algas, bactérias e fungos. Mais de 750 estruturas diferentes foram descritas, algumas das quais algumas podem ser transformadas em retinol no intestino ou no fígado (vitamina A).
Os carotenóides estão incluídos no grupo de antioxidantes lipofílicos mais proeminente. Eles desempenham um papel fundamental na prevenção e no tratamento de doenças relacionadas ao estresse oxidativo e envelhecimento, como a DMRI. Os humanos não conseguem sintetizar os carotenóides, que devem ser obtidos por meio de dieta ou suplementos. Embora sejam muito comuns na natureza, apenas 40 estão presentes na dieta humana e apenas metade pode ser encontrada em tecidos e fluidos biológicos. Os principais carotenóides presentes no sangue e nos tecidos humanos são α- e β-caroteno, licopeno, luteína, zeaxantina e β-criptoxantina, dos quais, luteína, zeaxantina se acumulam seletivamente na retina do olho para enriquecimento o pigmento macular da área da mácula central. Na fóvea central da retina humana, a luteína e a zeaxantina atingem concentrações cerca de 1000 vezes maior do que em outros tecidos.
Os carotenóides maculares são considerados os antioxidantes mais potentes para proteger contra o desenvolvimento da DMRI e também de outras doenças oculares. Acredita-se que essas substâncias protegem a retina de várias maneiras: filtrando alta energia e luz azul de comprimento de onda curto.
O Estudo 2 de doenças oculares relacionadas à idade (AREDS 2, 2014), um estudo multicêntrico, randomizado e controlado por placebo, desenvolvido para demonstrar se a suplementação com luteína e zeaxantina pode diminuir a taxa de progressão da DMRI. Este estudo mostrou que a suplementação com luteína e zeaxatina está inversamente associada à prevalência de DMRI neovascular, atrofia geográfica e drusas intermediárias grandes ou extensas. No entanto, uma comparação com o placebo não demonstra nenhuma redução estatisticamente significativa na progressão para DMRI avançada. A luteína melhorou a função visual na população com DMRI.
Vários estudos epidemiológicos e de intervenção, mas não todos, mostram que um aumento significativo na ingestão de frutas e vegetais ricos em vitamina A reduz o risco de qualquer estágio de DMRI.
POLIFENOIS
Os polifenóis representam um grande grupo de fitoquímicos presentes em muitas frutas e vegetais, e em algumas bebidas preparadas a partir de plantas, como vinho, chá e café. Eles têm benefícios comprovados para a saúde: efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios, antialérgicos, antimicrobianos e antivirais. Uma das propriedades de melhoria da saúde mais conhecidas desses compostos é seu efeito positivo na visão. Os principais polifenóis investigados para doenças oculares relacionadas à idade são:
Resveratrol
Flavonóides
Quercetina
Antocianinas
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Medicinal plantas and natural products as neuroprotective agents in age-related macular degeneration.
Bosch-Morell F e all.
Neural Regen Res. 2020 Dec;15(12):2207-2216
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