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  • Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

DESEQUILÍBRIO DO SISTEMA ENDOCANABINÓIDE NO AUTISMO.

Atualizado: 14 de abr.

O sistema endocanabinóide (ECS), presente em nosso organismo, produz substâncias similares aos canabinóides encontrados na planta cannabis e são chamados de endocanabinóides. Os endocanabinóides mais pesquisados são a anandamida e o 2 AG que atuam através de receptores espalhados em todo o nosso organismo, inclusive no cérebro.


Os canabinóides produzidos no nosso organismo auxiliam no combate a neuroinflamação, e atuam na plasticidade sináptica, na neuromodulação, além de atuarem no equilíbrio da produção de neurotransmissores.


Recentemente as pesquisas cientificas começaram a mostrar, em modelos animais e humanos, uma diminuição da atividade do Sistema Endocanabinóide no TEA (Transtorno do Espectro Autista), o que poderia estar agravando a neuroinflamação, as atividades sinápticas excitatórias e inibitórias disfuncionais e as alterações da função mitocondrial fazem parte do complexo de alterações que estão na base fisiopatológica do autismo.


Os canabinóides produzidos pelo nosso organismo, não são armazenados para uso posterior, eles são produzidos segundo a necessidade. Quando existe um excesso da produção de neurotransmissores excitatórios os endocanabinóides são produzidos para regular essa produção. Quando existe uma diminuição da produção de endocanabinóides, a falta desse sistema regulatório, permite que haja uma produção excessiva de neurotransmissores excitatórios.


Em 2019, um estudo realizado em Israel por Adi Aran, analisou os endocanabinóides em 93 crianças com TEA. Os resultados foram comparados ao de 93 crianças neurotípicas e mostrou que as crianças com TEA apresentam níveis séricos mais baixos dos endocanabinóides anandamida, n-palmiletanolamina e n-oleoetanolamina o que sugere que a sinalização deficiente de anandamida possa estar envolvida na fisiopatologia do TEA, alterando processos de neuro e imunomodulação.


Figura 1 - comparação das taxas de endocanabinoides encontradas por Adi Aran nesse estudo.

AEA - anandamida; OEA - n-oleoetanolamina; PEA - n-palmiletanolamina



Em novo estudo, realizado em 2021, o pesquisador Adi Aran avaliou o efeito dos fitocanabinóides em um grupo de 150 crianças autista, divididas em 3 grupos:

  • 1º grupo - extrato de fitocanabinóides full (20 CBD:1THC);

  • 2º grupo - extrato de CBD isolado;

  • 3º grupo - placebo







Esse estudo mostrou uma melhora significativa das crianças com TEA avaliadas pelo

  • Questionário de Situações Domiciliares do HSQ – TEA;

  • Escala de Responsividade Social SRS-2 – 2ª edição;

  • Índice APSI de estresse parental para autismo

  • Impressão Clínica Global


Embora a prevalência do autismo esteja aumentando, um produto farmacêutico ainda não foi desenvolvido para o tratamento dos principais sintomas do TEA, que exige uma abordagem multidisciplinar e envolve principalmente intervenções comportamentais e educacionais. A terapia farmacológica tenta abordar comorbidades associadas ao TEA, incluindo convulsões, comportamento violento, psicose, ansiedade, depressão, transtorno bipolar e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. As classes de medicamentos mais frequentemente prescritas para pacientes com TEA incluem antidepressivos, estimulantes, antipsicóticos, anticonvulsivantes, agentes hipotensores, ansiolíticos/sedativos/hipnóticos e melatonina.                                                                                                         

Estudos atuais indicam que a modulação do sistema endocanabinóide pode ser um caminho promissor para a melhora da qualidade de vida do autista e de seus familiares por poder trazer uma melhora de diversos sintomas como agitação psicomotora, agressividade, alterações sensoriais e déficits sociais.


Mais estudos são necessários para avaliar as alterações do sistema endocanabinóide no autismo.


É importante ressaltar que a Cannabis não funciona para todos os portadores do TEA e também não é uma solução para o transtorno, é apenas um adjuvante terapêutico que vem sendo estudado e que precisa ser associado a todas as outras terapias necessárias no tratamento.





Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.


Para saber mais:

Karhson, D. S. et al.

Mol. Autism 9, 18 (2018).


Aran, A. et al.

Mol. Autism 10, 2 (2019).


Aran, A. et al.

Mol. Autism 12, 6 (2021).


Cannabis Cannabinoid Res. 2021 Dec 6. doi: 10.1089/can.2021.0129


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