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  • Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

DOENÇA DE ALZHEIMER E APOE4

A doença de Alzheimer (DA) é uma doença degenerativa progressiva do sistema nervoso central que afeta pessoas com mais de 65 anos. É a causa mais comum de demência. De acordo com o relatório mundial a doença de Alzheimer, em 2019, afetava mais de 50 milhões de pessoas em todo o mundo. Várias estimativas tem mostrado que essa doença deverá atingir mais de 152 milhões até 2050.


Suas principais manifestações clínicas são declínios progressivos na memória e na função cognitiva, acompanhados por sintomas psiquiátricos e comportamento anormal.


O gene APOE é importante para a formação de uma proteína que ajuda a transportar o colesterol pela corrente sanguínea. Há quase 30 anos, cientistas descobriram que a variante genética APOE4 também influencia as chances de uma pessoa desenvolver Alzheimer.


Pessoas com 2 cópias do APOE4 têm quase certeza de desenvolver Alzheimer segundo um estudo publicado em maio de 2024 pela revista "Nature Medicine". Esse estudo incluiu 3.297 indivíduos para o estudo patológico e 10.039 para o estudo clínico. Dessas pessoas, mais de 500 apresentavam 2 cópias de APOE4. Esse estudo mostrou que quase todos os homozigotos APOE4 exibiram a DA e tiveram níveis significativamente mais altos de biomarcadores da DA a partir dos 55 anos em comparação com os homozigotos APOE3. Os autores do estudo afirmam que 2 cópias de APOE4 devem agora ser consideradas uma causa do Alzheimer - não simplesmente um fator de risco.


Pessoas com 2 cópias, conhecidas como homozigotos APOE4, compõem de 2% a 3% da população em geral, mas são estimadas em 15% a 20% das pessoas com DA. Pessoas com 1 cópia compõem cerca de 15% a 25% por cento da população em geral e cerca de 50% dos pacientes com Doença de Alzheimer.


Os pacientes também desenvolveram a patologia de Alzheimer relativamente jovens, descobriu o estudo. Aos 55 anos, mais de 95 por cento tinham marcadores biológicos associados à doença. Aos 65, quase todos tinham níveis anormais de uma proteína chamada amiloide que forma placas no cérebro, uma marca registrada do Alzheimer. E muitos começaram a desenvolver sintomas de declínio cognitivo aos 65 anos, mais jovens do que a maioria das pessoas sem a variante APOE4.


O APOE4 contribui para a patogênese da DA através da sua ação prejudicial na plasticidade sináptica cerebral, no metabolismo da glicose, no transporte do colesterol e na sinalização neuronal. Ele causa disfunção mitocondrial causando aumento do estresse oxidativo e da neuroinflamação.


Segundo os autores desse estudo da "Nature Medicine", saber quantas cópias do APOE4 uma pessoa tem, permite fazer um diagnóstico da DA muitos anos antes da doença se manifestar clinica ou laboratorialmente, o que auxilia tanto na prevenção quanto no tratamento da DA.


Os medicamentos aprovados pelo FDA, para o tratamento dos sintomas da DA, são os inibidores da colinesterase (Tacrina, Donepezila, Rivastigmina, Galantaminona) e antagonistas do receptor NMDA (Memantina).  Os inibidores da colinesterase não produzem o efeito desejado na maioria das pessoas que tem o ApoE4.


Os medicamentos mais recentes que utilizam anticorpo monoclonal anti-amilóide e se propõem a modificar o curso da doença, como o donanemab (Kinsula) e lecanemabe (Leqembi) também são associados ao maior risco de efeitos colaterais nas pessoas apoE4. Esses medicamentos ainda não foram aprovados no Brasil pela ANVISA.


Diversos estudos vêm sendo conduzidos no sentido de encontrar nutracêuticos capazes de reduzir a velocidade da progressão da DA, devido a seus efeitos anti-amilóide, anti-inflamatório e anti-oxidante cerebral e, também na melhora do metabolismo e da bioenergia cerebral. Desses nutracêuticos se destacam a niacinamida, a berberina, a curcumina, a quercetina, o sulforafano, o chá verde, diversas vitaminas e minerais.


Parte deles têm mostrado efeitos benéficos em estudos "in vitro" e em animais. Outros já mostraram resultados positivos em estudos em humanos, sendo os resultados diferentes de acordo com o apoE4 apresentado.


Um dos grandes exemplos são as cápsulas de Omega 3 que tem efeitos favoráveis na evolução da DA de pessoas que não tem o ApoE4 mas, não influenciam o curso da doença naqueles que tem o ApoE4. Nas pessoas que tem o ApoE4 o melhor efeito está no omega 3 DHA obtido pela ingestão do peixe ou de produtos aonde o DHA venha ligado a fosfatidilcolina, como ocorre na carne do peixe ou nos fosfolipídeos de caviar.


Embora a Doença de Alzheimer permaneça sem uma cura no momento, os estudos têm avançado muito tanto do ponto de vista medicamentoso quanto dos nutracêuticos que podem auxiliar tanto na prevenção quanto no tratamento da doença, sempre associados ao estilo de vida saudável.





Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.





ApoE4: an emerging therapeutic target for Alzheimer's disease.

Safieh M, Korczyn AD, Michaelson DM.

BMC Med. 2019 Mar 20;17(1):64. doi: 10.1186/s12916-019-1299-4.



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