O emagrecimento e a manutenção do novo peso são processos muito delicados e difíceis de serem conseguidos por diversas razões, mas, uma das razões mais importantes é que, quando começamos a perder peso, todo o processo metabólico se modifica, para que o peso anterior a perda retorne.
Muitos especulam que isso ocorra porque na maior parte da história da humanidade o grande problema foi a falta de alimentos, e não o seu excesso. Sobreviveram e perpetuaram a sua carga genética aqueles com maior capacidade de preservar o peso.
O exercício tem sido apontado como um grande auxiliar na perda de peso, mas não é bem assim para grande parte das pessoas.
Embora o exercício aumente o gasto calórico, existem adaptações que reduzem o impacto total desse gasto calórico visando a manutenção do peso. O metabolismo passa a funcionar no chamado metabolismo contrito:
A fome pode aumentar no longo prazo,
O organismo pode lançar mão de processos que reduzem o gasto calórico no resto do dia visando economizar energia;
Esses mecanismos permitem que o gasto energético devido ao exercício seja compensado no computo geral do dia. Se a fome aumenta e o metabolismo basal do organismo diminui podemos ter uma conta aonde o total calórico permaneça o mesmo.
O estudo recente, "Energy compensation and adiposity in humans", realizado em conjunto por universidades canadenses, americanas e londrinas, publicado em 27 de agosto de 2021, avaliou esses processos de adaptação metabólica, usando uma técnica chamada água duplamente marcada, que mede o balanço energético de 24horas. Os dados confirmam a existência desse processo de adaptação metabólica visando a manutenção do peso.
Na média, um indivíduo economiza 28% das calorias que gastou no exercício no resto do dia. Ou seja, se ele gastou 300kcal, no final do dia, esse aumento foi de apenas 216kcal.
Um dos dados que chamou a atenção nesse estudo foi o resultado em pessoas que apresentam obesidade, aonde essa adaptação foi maior, de quase 50%. Ou seja, metade do gasto no exercício foi economizado no resto do dia pelo corpo.
Não é possível saber, por esse estudo, se essa poderia ser uma causa do ganho de peso (pessoas que tem essa adaptação maior ganham mais peso ao longo da vida) ou consequência dela, mas é mais um dado que mostra como é difícil perder peso depois que já se tem obesidade.
O exercício físico continua sendo fundamental para melhorar saúde física e mental, tendo seus efeitos comprovados na prevenção de diversas doenças. Ele também tem um impacto importante na qualidade de vida, composição corporal, etc.
Algumas pessoas, ao contrário do que esse estudo mostrou, sentem uma melhora substancial, inclusive no peso, devido a efeitos de melhora nos neurotransmissores que propiciam bem estar e equilíbrio emocional e que contribuem para a diminuição do apetite. Mas isso não ocorre com a maioria das pessoas.
O caminho para a perda de peso é longo, e o exercício pode ter efeitos benéficos a longo prazo, mas, o controle alimentar continua sendo um dos pontos fortes para a obtenção do peso adequado.
Atualmente diversos medicamentos, associados a mudanças alimentares e de hábitos de vida tem mostrado um grande benefício na perda de peso e na sua manutenção.
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Energy compensation and adiposity in humans
Vincent Careau et all.
Current Biology, 27 August 2021.
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