O que comemos pode ser mais importante do que o quanto nos movemos quando se trata de lutar contra a obesidade.
Quando as crianças estão com excesso de peso, é mais provável que o culpado seja comer muito - e comer errado -, do que se mover muito pouco, de acordo com um novo estudo feito com crianças da região amazônica pelo Dr. Urlacher do Departamento de Antropologia da Baylor University, no Texas, EUA.
O estudo comparou os estilos de vida, dietas e composições corporais de crianças indígenas da região da Amazônia do Equador, os Shuar tradicionais, com crianças vivendo na em comunidades rurais vizinhas.
As crianças indígenas tem maior atividade física e vivem principalmente da coleta, caça, pesca e agricultura de subsistência. Sua alimentação é rica em bananas e amidos semelhantes. Os shuar, especialmente as crianças, raramente estão acima do peso e geralmente não são desnutridos.
O estudo descobriu que as crianças indígenas, que correm, brincam e gastam horas do seu dia para conseguir os alimentos, são mais ativas do que as que vivem nas comunidades urbanas., mas, inesperadamente, elas não queimam mais calorias no dia-a-dia. As descobertas também levantam questões provocativas sobre a interação da atividade física com o metabolismo e os motivos pelos quais os exercícios ajudam tão pouco na perda de peso, não apenas em crianças, mas também em todos nós.
Uma vez que o gasto energético das crianças indígenas e urbanas, medidos por métodos de ponta, são semelhantes, o que causa o aumento de peso e, em muitos casos obesidade, é a alimentação industrializada, repleta de “junk foods” que as crianças urbanas comem.
Em uma pesquisa pioneira do Dr. Pontzer do Departamento de Antropologia da “City University of New York", feita com os Hadza, uma tribo de caçadores-coletores na Tanzânia, ele descobriu que, embora os povos da tribo se mudassem com frequência durante o dia, caçando, cavando, arrastando, carregando e cozinhando, eles queimavam o mesmo número de calorias diárias que ocidentais muito mais sedentários.
O Dr. Pontzer, concluiu que, durante a evolução, nós, humanos, devemos ter desenvolvido uma capacidade inata e inconsciente de realocar o uso de energia do nosso corpo. Se queimamos muitas calorias com, por exemplo, atividade física, queimamos menos com algum outro sistema biológico, como reprodução ou respostas imunológicas. O resultado é que nosso gasto energético diário médio permanece dentro de uma faixa estreita de calorias totais, útil para evitar a fome entre os caçadores-coletores ativos, mas desanimador para aqueles de nós no mundo moderno que descobrem que mais exercícios não equivalem a muito, se houver, perda de peso.
O Dr. Urlacher se perguntou se compensações metabólicas semelhantes também poderiam existir em crianças, incluindo os Shuar tradicionais. Então, em 2019, ele mediu precisamente o gasto de energia em alguns dos jovens indígenas Shuar e comparou o número total de calorias que eles queimavam com os dados existentes sobre as calorias diárias queimadas por crianças relativamente sedentárias (e muito mais pesadas) nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha. Embora os jovens shuar fossem muito mais ativos, eles não queimavam mais calorias, no geral.
Esses resultados indicam que a quantidade de alimentos que as crianças comem influencia mais seu peso corporal do que o quanto elas se movem, diz ele, uma visão que deve começar a orientar quaisquer esforços para enfrentar a obesidade infantil.
Embora o exercício seja muito importante para as crianças por diversos motivos, a atividade física elevada pode não ser suficiente para conter o aumento da obesidade infantil.
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Childhood Daily Energy Expenditure Does Not Decrease with Market Integration and Is Not Related to Adiposity in Amazonia.
Samuel S Urlacher, et all.
The Journal of Nutrition, 18 de jan 2021.
NY Times 24 de fev 2021
Herman Pontzer et all.
Am J Hum Biol Sep-Oct 2015;27(5):628-37.
Comments