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Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

HOMOCISTEÍNA NAS DOENÇAS NEUROPSIQUIATRICAS

Atualizado: 14 de abr. de 2024


A homocisteína é um marcador da função de diversas reações químicas muito importantes para o metabolismo cerebral como:

  • Síntese de neurotransmissores: serotonina, adrenalina, acetilcolina;

  • Síntese da melatonina que além de contribuir para um sono de melhor qualidade é um grande antioxidante cerebral;

  • Síntese da glutationa - que é o principal antioxidante cerebral;

  • Formação da Creatina que atua fornecendo energia para a função cerebral;

  • Metilação de nucleotídeos (mecanismo epigenético)

  • Reparo das membranas cerebrais entre outros.


A homocisteína alta é considerada um fator de risco para diversas doenças, como saúde óssea, disfunção renal, desenvolvimento de defeitos congênitos, aterosclerose sistêmica, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares independentemente de fatores de risco como hiperlipidemia, hipertensão, diabetes mellitus e o hábito de fumar. Isso ocorre porque ocorre um aumento do estresse oxidativo, da disfunção do endotélio dos vasos sanguíneos e da inflamação cerebral.

DISFUNÇÃO MITOCONDRIAL

Estudos recentes associaram o aumento da homocisteína também a disfunção mitocondrial. A mitocôndria é a fábrica de energia do nosso organismo. O cérebro utiliza cerca de 20% da energia produzida no corpo para o seu funcionamento. Nas doenças mitocondriais, a diminuição da energia gerada afeta o metabolismo cerebral. Além disso, nesse processo de disfunção mitocondrial ocorre um aumento da produção de radicais livres que contribuem para os processos inflamatórios cerebrais que podem agravar a disfunção cerebral.


HOMOCISTEINA ALTA NAS DOENÇAS NEUROLÓGICAS E PSIQUIÁTRICAS

Atualmente, o aumento da homocisteína no plasma sanguíneo, foi identificado como um fator de risco para o agravamento de vários distúrbios neurológicos e psiquiátricos:

  • Comprometimento cognitivo;

  • Quadros demenciais:

    • Um grupo de especialistas revisou evidências da literatura dos últimos 20 anos e fez uma Declaração de Consenso, baseada nos critérios de Bradford Hill, concluindo que a homocisteína total plasmática elevada é um fator de risco modificável para o desenvolvimento de declínio cognitivo, demência e doença de Alzheimer em pessoas idosas.

    • Doença de Parkinson - A homocisteína pode estar também associada ao desenvolvimento e a progressão da doença de Parkinson.

  • Transtorno bipolar

  • Esquizofrenia;

  • TEA - diversos estudos tem também associado o aumento da homocisteína ao agravamento dos quadros de autismo

  • TDHA


CICLO DA HOMOCISTEÍNA

A homocisteína é um aminoácido que não está presente na alimentação. É formada através do metabolismo da metionina. A metionina é um aminoácido essencial presente em vários alimentos proteicos, como carne, ovos, laticínios e legumes.


No ciclo da homocisteína, ela é constantemente metabolizada em metionina que novamente é metabolizada em homocisteína. Quando a metionina é metabolizada em homocisteína, ocorre a formação de da SAMe (S -adenosil-metionina) que fornece radicais metil para diversas reações químicas importantíssimas como a formação de neurotransmissores e diversas outras reações químicas que necessitam de um radical metil.

Uma vez formada, a homocisteína pode ser reciclada em metionina ou convertida em cisteína pelas rotas de remetilação e transulfuração, respectivamente.


A homocisteína pode ser remetilada em metionina através da ação de 3 enzimas diferentes havendo a necessidade do metil folato, metil-B12 para que a reação ocorra. Em todos os tecidos, o ácido fólico doa um grupo metil através da metilenotetrahidrofolato redutase (MTHFR) em uma reação catalisada pela metionina sintase, uma enzima dependente de vitamina B12. Caso contrário, principalmente no coração, fígado e rins humanos, a homocisteína é remetilada usando a trimetil glicina (TMG) que pode ser encontrada em diversas fontes alimentares, incluindo gérmen ou farelo de trigo, espinafre, beterraba, frutos do mar e legumes.


Na rota da transulfuração que ocorre principalmente no fígado, mas também nos rins, intestino delgado e pâncreas a homocisteína é enzimaticamente modificada pela cistationina-β-sintase, uma enzima dependente de B6, para formar irreversivelmente cisteína. Na rota de transulfuração a glutationa que é o principal antioxidante cerebral é formado.


Figura 1. Representação esquemática das vias do metabolismo da Hcy (DHFR = diidrofolato redutase; THF = tetraidrofolato; SHMT = serinahidroximetiltransferase; MTHF = metilenotetrahidrofolato; MTHFR = 5,10-metileno-THF redutase; ATP = adenosina trifosfato; MAT = metionina adenosiltransferase; ADP = adenosina difosfato; SAM = S -adenosilmetionina; SAH = S -adenosilHcy; BHMT = betaína-Hcy S -metiltransferase; CBS = cistationina β-sintase; CSE = cistationase; GSH = glutationa; H 2 S = sulfeto de hidrogênio).



O QUE CAUSA O AUMENTO DA HOMOCISTEÍNA


DEFICIÊNCIAS NUTRICIONAIS

No ciclo da homocisteína, ela é constantemente metabolizada em metionina que novamente forma a homocisteína em um processo que depende de metil folato e de metil B12. O folato e a vitamina B12 vindos da alimentação, se transformam em metil folato e de metil B12, ambos essenciais para a metabolização de homocisteína em metionina.


Em casos de deficiência alimentar de vitamina B12 ou deficiência de ácido fólico pode ocorrer o aumento da homocisteína. A deficiência da vitamina B12 é muito comum nos veganos ou em pessoas que consomem poucos produtos de origem animal.


Outra causa de deficiência da vitamina B12 são as gastrites atróficas e aumento do anticorpo anti fator intrínseco. O fator intrínseco é muito importante para que a vitamina B12 seja absorvida.


VARIAÇÕES GENÉTICAS

Existem alterações genéticas que dificultam a metabolização do ácido fólico em metil folato devido a polimorfismos (variações) do gene MTHRF. Nesse caso a suplementação com metil folato auxilia a normalizar as taxas da homocisteina.


Outros polimorfismos afetam a absorção e o transporte do ácido fólico.


Algumas variações genéticas diminuem a absorção dos alimentos e o transporte no plasma da vitamina B12 fazendo com que a suplementação de vitamina B12 ou da metil B12 possam auxiliar no controle do aumento da homocisteina.


A homocisteína também é metabolizada em cisteina através da ação da enzima CBS que depende da presença da vitamina B6 para sua ação. Em caso de alterações genéticas do gene da CBS ou deficiência de vitamina B6 na alimentação, a homocisteína também ficará aumentada.


A normalização das taxas de homocisteína na maioria das vezes responde a suplementação das vitaminas B6, metil B12 e metil folato. Algumas vezes outros nutrientes podem ser necessários para ajustar as taxas de homocisteina.


CONCLUSÃO

Manter as taxas de homocisteína normais contribue para um melhor metabolismo cerebral o que pode ajudar na prevenção e/ou na melhora de quadros psiquiátricos e das doenças neurodegenerativas.





Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma certificação internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.




Para saber mais:


Kaplan P, Tatarkova Z, Sivonova MK, Racay P, Lehotsky J.

Int J Mol Sci. 2020 Oct 18;21(20):7698.


Smith AD, Refsum H, Bottiglieri T, Fenech M, Hooshmand B, McCaddon A, Miller JW, Rosenberg IH, Obeid R.

J Alzheimers Dis. 2018;62(2):561-570.


Fan X, Zhang L, Li H, Chen G, Qi G, Ma X, Jin Y.

Ann Clin Transl Neurol. 2020 Nov;7(11):2332-2338.



Yektaş Ç, Alpay M, Tufan AE.

Neuropsychiatr Dis Treat. 2019 Aug 6;15:2213-2219.


Elevated homocysteine and depression outcomes in patients with comorbid medical conditions in rural primary care.Srinivasan K, Salazar LJ, Heylen E, Ekstrand ML.Int J Noncommun Dis. 2022 Apr-Jun;7(2):95-97


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