O que está acontecendo com nosso intestino? Os casos de cancer intestinal, intestino irritável, doenças inflamatórias, alergias e intolerâncias alimentares, diarreia, dor abdominal, flatulência e inchaço abdominal vem se tornando cada dia mais comuns.
As intolerâncias e alergia alimentares eram muito raras. O trigo e o leite fazem parte da história alimentar da humanidade, começando a fazer parte da alimentação desde que o homem deu início a agricultura e passou ter animais de criação. Isso remonta a mais de 10.000 anos atrás. Recentemente, milhões de pessoas começaram a precisar retirar esses alimentos da sua vida. Como isso aconteceu?
O intestino vem há décadas sendo cada vez mais bombardeado com xenobióticos, que são substâncias estranhas a nossa biologia, como vários dos inúmeros ingredientes dos produtos industrializados, adoçantes artificiais, metais pesados, agrotóxicos e antibióticos que vem escondidos nos alimentos sem que as pessoas percebam, porque todos esses invasores da nossa alimentação não prejudicam o sabor dos alimentos.
Qual a carga desses xenobióticos que podemos ingerir sem afetar o intestino? Ninguém sabe ao certo, mas certamente nós estamos ultrapassando à dose permitida.
O impacto dos xenobióticos no microbioma intestinal humano pode ocorrer de diversas formas. O microbioma intestinal humano codifica enzimas metabólicas diversas, o que expande muito o repertório de reações bioquímicas no corpo humano. Alguns produtos químicos ambientais podem afetar diretamente as bactérias intestinais, interrompendo vias metabólica específica ou a expressão gênica bacteriana. Portanto, a seleção de bacteriana que ocorre após a exposição a esses produtos pode causar seleção de bactérias nocivas resistentes a esses xenobióticos, alterando o número e a composição das bactérias do microbioma e levando a a um ecossistema intestinal desequilibrado.
ANTIBIÓTICOS E OUTROS MEDICAMENTOS
O uso de antibióticos muitas vezes é crucial para o tratamento de doenças que ameaçam a vida humana. Mas, muitos estudos indicam que no Brasil ocorre um uso excessivo de antibióticos, sendo o número de tratamentos antibióticos por pessoa muito maior do que encontrado em diversos países. Estima-se que 1/3 dos antibióticos prescritos para crianças são desnecessários.
Os tratamentos antibióticos de curto e longo prazo matam várias bactérias importantes do microbioma intestinal. Algumas vezes o microbioma consegue se recupera, as vezes pode ocorrer uma recuperação parcial, mas muitas vezes ele fica seriamente prejudicado com grande perda da diversidade e com desequilíbrio da composição permitindo que bactérias nocivas cresçam em número de forma desproporcionada.
Além dos antibióticos descobriu-se que um quarto das drogas direcionadas ao ser humano tem efeitos nocivos sobre as bactérias intestinais.
ANTIBIÓTICOS NA CARNE USADA NA ALIMENTAÇÃO
Quando comemos carne de vaca, porco, frango ou peixe que contém antibióticos estamos agredindo nossa flora intestinal.
Muitas empresas vem oferecendo carne sem antibióticos, como é o caso da Korin que tem frango e carne bovina e da Sadia que oferece frango sem antibiótico.
Aproximadamente 70% dos antibióticos produzidos nos USA são utilizados para uso em animais. É muito comum que os animais de corte recebam esses medicamentos na água e na alimentação. Os antibióticos atuam como promotores de crescimento, porque além de manter os animais saudáveis, estimula o crescimento e o ganho de peso dos animais.
O uso dos antibióticos nos animais mata muitas bactérias nocivas, porém também permite que outras bactérias ganhem resistência, sobrevivam e se multipliquem dando origem a resistência bacteriana aos antibióticos.
O Brasil é o terceiro maior usuário de antibióticos na produção animal, atrás de China e EUA.
Para os diferentes tipos de criação, quantidades bem diferentes de antibióticos são usadas. A média mundial de uso é:
Bovinos: 45 mg/kg de peso vivo,
Aves: 148 mg/kg de peso vivo
Suínos: 172 mg/kg de peso vivo.
Peixes criados em cativeiro também recebem antibióticos junto com a ração.
Nessas médias, estão incluídos tanto o uso terapêutico, ou seja, para tratar de doenças, como o uso dessas substâncias como promotoras de crescimento. Quanto mais intensificada é a produção, maior é o risco de doenças, maior a necessidade de uso terapêutico de antibióticos, o que explica o uso mais de três vezes maior em aves e suínos.
Na Comunidade Europeia, apenas o uso terapêutico de antibióticos é liberado, sendo proibido o uso com a finalidade de promoção de crescimento. Todavia, há suspeita que nem todo uso reportado como terapêutico, de fato, o seja.
PESTICIDAS
O uso excessivo de pesticidas na agricultura levantou preocupações sobre seus efeitos na saúde. O argumento de que certos pesticidas são seguros para os seres humanos porque o mecanismo metabólico usado para matar as pragas da agricultura não existe no corpo humano, falha em considerar os micróbios no intestino. Vários agrotóxicos, incluindo o glifosato interferem no metabolismo das bactérias do microbioma causando sua morte.
ADITIVOS ALIMENTARES E ADOÇANTES
Os aditivos alimentares facilitaram o desenvolvimento da indústria alimentícia moderna. Normalmente, aditivos alimentares (por exemplo, adoçantes artificiais, emulsificantes, conservantes) são adicionados em produtos alimentícios com uma quantidade segura aprovada. No entanto, a toxicidade ao microbioma intestinal não foi levada em consideração quando os padrões de segurança foram determinados. Muitos adoçantes artificiais são considerados seguros porque são pouco metabolizados pelo corpo humano. No entanto, as bactérias intestinais estão ativamente envolvidas na bio transformação desses produtos e diversos estudos mostraram danos a microbiota por diversas dessas substâncias, entre elas os adoçantes como: estévia, ciclamato, sacarina, xilitol, sucralose, aspartame entre outros.
Para saber mais:
Gut Microbiome Toxicity: Connecting the Environment and Gut Microbiome-Associated Diseases. Pengcheng Tu et all.
Toxics. 2020 Mar; 8(1): 19.
Antibióticos na produção animal: Restrições à vista?
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