A intolerância à lactose ocorre quando seu corpo não consegue quebrar ou digerir a lactose que é um açúcar encontrado no leite e nos produtos lácteos. Isso ocorre quando seu intestino delgado não produz uma quantidade suficiente da enzima lactase que decompõe a lactose dos alimentos em glicose e galactose para que seu corpo possa absorvê-la.
A deficiência de lactase é o tipo mais comum de deficiência de dissacaridase. Os níveis da lactase atingem o pico logo após o nascimento, durante o aleitamento, e diminuem depois disso, apesar da ingestão contínua de lactose.
Em média, 65% a 70 % da população mundial é intolerante à lactose. Ela é rara em crianças menores de 5 anos. É mais frequentemente observado em adolescentes e adultos jovens. Certas populações da espécie humana, como as de ascendência sul-americana, asiática e africana, tendem a desenvolver deficiência de lactase. Pelo contrário, as pessoas originárias do norte da Europa ou do noroeste da Índia geralmente mantêm a capacidade de digerir a lactose na idade adulta.
Pessoas que têm intolerância à lactose apresentam sintomas desagradáveis após comer ou beber leite ou derivados:
Inchaço abdominal,
Gases,
Diarreia e/ou alterações no formato, consistência e frequência das fezes,
Cólicas e dores abdominais,
Estômago gorgolejando ou roncando,
Plenitude,
Náuseas e vômitos.
Além dos sintomas acima, de forma menos comum, a intolerância à lactose pode causar também dor de cabeça, dores musculares, dores nas articulações, úlceras na boca, sintomas urinários e perda de concentração.
A gravidade dos seus sintomas dependerá da quantidade de lactose que você ingeriu e da quantidade de lactase que seu corpo produz. A intolerância à lactose não é a mesma coisa que ter alergia alimentar ao leite.
DIAGNÓSTICO DA INTOLERÂNCIA À LACTOSE
Alguns exames podem auxiliar no diagnóstico:
Teste de tolerância à lactose,
Teste do hidrogênio expirado,
Teste de acidez das fezes.
Os testes genéticos não fazem diagnóstico de intolerância à lactose. Eles indicam a probabilidade do desenvolvimento da intolerância à lactose ao longo da vida.
TRATAMENTO DA INTOLERÂNCIA À LACTOSE
1. O primeiro passo é diminuir a quantidade de lactose em sua dieta:
Limite os produtos lácteos de maior teor de lactose,
Inclua apenas pequenas porções de laticínios em suas refeições regulares,
Coma e beba sorvete e leite com baixo teor de lactose.
Alimento | Teor de lactose (g) por 100 g | Conteúdo de lactose por porção típica (g) |
Leite (completo) | 4.7 | 15 |
Leite (desnatado) | 4.8 | 15 |
Leite sem lactose | <0,1 | <0,1 |
Leite de cabra | 4,5 | 13 |
Soro de leite coalhado | 3,0 | 9,0 |
Manteiga | 0,5 | 0,1 |
Iogurte (fresco) | 3,0 | 9.3 |
Iogurte (biológico) | 4,0 | 9,5 |
Requeijão cremoso | 3,0 | 0,9 |
Queijo macio (por exemplo, camembert) | 0,3 | 0,1 |
Queijo duro (por exemplo, cheddar e gruyere) | 0,1 | <0,1 |
Creme | 3.6 | 3.2 |
Sorvete suave | 6.4 | 5.7 |
Café com leite Macchiato | 4.3 | 8.6 |
Lasanha | 1.1 | 2.6 |
X-Burger | 0,9 | 1.1 |
Molhos prontos | 3.6 | 4,5 |
Pudim/creme | 3.6 | 4,5 |
Bebidas de arroz, nozes, soja ou aveia | 0,0 | 0,0 |
2. REPOSIÇÃO DE LACTASE
Além de reduzir o conteúdo de lactose na sua alimentação, suplementos que contenham a enzima lactase em cápsulas ou sachê quebrar a lactose, logo no início de uma refeição que contenha lactose.
3. REPOSIÇÃO DE VITAMINA B6
4. RESTAURAÇÃO DO MICROBIOMA
O leite é consumidos por algumas populações humanas desde a Revolução Neolítica, cerca de 10 mil anos atrás, mas recentemente houve um aumento nas doenças atribuídas a esse consumo.
É muito pouco provável que o fato de tantos de nós sermos agora incapazes de tolerar a lactose seja um sinal de que não fomos “feitos” para consumir leite e seus derivados. Afinal, os ancestrais de muitos de nós, especialmente aqueles de origem europeia, os vêm consumindo há milhares de anos. É quase como se as mudanças no estilo de vida dos últimos sessenta anos tivesse retrocedido quase 10 mil anos de evolução alimentar humana.
A origem desse distúrbio não reside apaenas em nosso genoma, mas em nosso microbioma desequilibrado.
Recentemente, a ideia de melhorar a composição da microbiota intestinal com algumas linhagens probióticas selecionadas representa uma abordagem terapêutica válida nas doenças gastrointestinais funcionais. A microbiota pode ser alterada por vários fatores (estresse, estilo de vida, dieta, antibióticos, agrotóxicos, etc.).
Pesquisas recentes sugerem que a formulação das bactérias probióticas abaixo melhoram a flatulência e o inchaço em pacientes com intolerância a lactose:
Lactobacillus acidophilus
Lactobacillus rhamnosus
Lactobacillus casei
Bifidobacterium breve
Bifdobacterium longum
Bifidobacterium infantis
Streptococus thermophilus
A introudução de prebióticos para melhora da microbiota intestinal também pode auxiliar na melhora dos sintomas da intolerância a lactose:
O galactooligossacarídeo de cadeia curta (GOS) é um prébiotico que induz a uma mudança no microbioma, aumentando a quantidade relativa de bactérias promotoras da saúde. São encontrados no feijão, grão de bico, ervilha, beterraba e em menor quantidade no repolho, brócolis e cereais integrais.
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Toca MDC, Fernández A, Orsi M, Tabacco O, Vinderola G.Arch Argent Pediatr. 2022 Feb;120(1):59-66.
Misselwitz B, Butter M, Verbeke K, Fox MR.Gut. 2019 Nov;68(11):2080-2091.
Brandão Gois MF, Sinha T, Spreckels JE, Vich Vila A, Bolte LA, Weersma RK, Wijmenga C, Fu J, Zhernakova A, Kurilshikov A.Intestino. 2022 janeiro;71(1):215-217.
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