INTOLERÂNCIA A HISTAMINA NA PRÁTICA
- Berenice Cunha Wilke
- 22 de fev.
- 6 min de leitura
Atualizado: 20 de mar.
A intolerância à histamina é uma condição caracterizada por um excesso de histamina no organismo.
Pesquisadores atribuíram várias razões a essa condição, como fatores genéticos, alimentares e alterações da microbiota intestinal entre outros elementos.
Os sintomas de intolerância à histamina foram encontrados se estendendo além do trato gastrointestinal e para todo o corpo, sendo que esses sintomas podem ser esporádicos e não específicos.
Fatores que contribuem para a intolerância a histamina:
Deficiência da DAO
Em indivíduos saudáveis, a enzima diamina oxidase intestinal (DAO) ajuda a eliminar a histamina retirada dos alimentos. Quando a atividade da DAO está diminuída a histamina não é adequadamente eliminada e pode causar o acúmulo de histamina e seus sintomas.
A deficiência da DAO pode ocorrer devido a:
Alterações genéticas - mais de 50 polimorfismos genéticos foram associados a deficiência da DAO;
Medicamentos. Cerca de 20% da população europeia consome medicamentos que podem diminuir a atividade da DAO, aumentando o risco de intolerância à histamina - ver abaixo na tabela 1;
Doenças que podem causar deficiência da DAO
A doença inflamatória intestinal por causar diminuição importante da produção da DAO devido aos danos da mucosa intestinal.
Um estudo mostrou que 9 em cada 10 pacientes com sensibilidade ao glúten não celíaca têm níveis séricos de DAO reduzidos, indicando uma relação potencial entre a sensibilidade ao glúten não celíaca e a intolerância à histamina.
Aumento da produção de histamina pelo organismo
O álcool aumenta a produção de histamina no organismo
Alterações da microbiota intestinal
Na microbiota intestinal cerca de 7,5% das bactérias são produtoras de histamina. O aumento dessas bactérias produtoras de histamina causa um aumento da histamina no organismo podendo causar uma ampla gama de sintomas decorrentes intolerância a histamina. As principais bactérias produtoras de histamina são:
Filo Protobactérias
Klebsiella pneumoniae;
Citrobacter freundii;
Enterobacter;
Enterobacter cloacae;
Filo Firmicutes
Clostridium;
Enterococcus faecium.
Doenças intestinais
O intestino produz a enzima DAO nos seus enterócitos maduros, localizadas nas vilosidades intestinais. As doenças que afetam as vilosidades intestinais (como na doença celíaca) ou fatores que aceleram a troca das células intestinais (como doenças inflamatórias intestinais) podem resultar em diminuição da concentração da enzima.
Variações hormonais femininas
Nos períodos do ciclo aonde ocorre uma maior taxa de estrogênios em relação a progesterona ou na menopausa temos um aumento da intolerância a histamina.
O estrogênio aumenta a liberação de histamina e a progesterona aumenta a ação da DAO com diminuição da histamina.
Alimentos com alto teor de histamina:
Alimentos que estimulam a produção de histamina no organismo
SINTOMAS DA INTOLERÂNCIA A HISTAMINA
Os sintomas dessa intolerância acometem vários órgãos como vias aéreas, pele, coração, sistema nervoso e gastrointestinal e seus sintomas são múltiplos, sendo que cada pessoa manifesta sintomas diferentes, que variam de acordo com a sensibilidade de cada organismo a histamina.

Na mulher, o aumento da sensibilidade a histamina pode ocorrer mais frequentemente no período menstrual e na peri menopausa.
DIAGNÓSTICO DA INTOLERÂNCIA A HISTAMINA
Não existe ainda um consenso na literatura sobre os critérios para o diagnóstico da intolerância a histamina.
Além dos sintomas, alguns exames podem contribuir com esse diagnóstico:
Dosagem da DAO no sangue e no intestino
Dosagem da1-metil-histamina da urina
Teste genético - pesquisa das variações que interferem no metabolismo da histamina. Existem mais de 50 variações genéticas que estão sendo associadas a diminuição da atividade da DAO, sendo que os principais polimorfismo são:
Gene AOC1 - Portadores de alterações no gene AOC1 apresentam redução da atividade da enzima diaminaoxidase (DAO), que atua na degradação da histamina extracelular. Alterações nesse gene estão associadas ao acúmulo de histamina no corpo, fator que pode desencadear sintomas como enxaqueca, disbiose intestinal, confusão mental, alergia cutânea entre outros. Principais polimorfismos no AOC1:
Gene HNMT - Os estudos indicam que SNPs no gene HNMT estão relacionados a doenças atópicas em crianças, formas mais graves de rinite alérgica e distúrbios comportamentais. Um dos principais SNPs no gene HNMT é o rs11558538 - alelo de risco T.
Gene MAOB- Portadores de alterações no gene MAO-B apresentam deficiência da enzima Monoamina Oxidase B que atua na metabolização de dopamina e histamina. Alterações nesse gene estão associadas ao acúmulo de N-metil-histamina que não é convertida em N-metil-imidazol-acetaldeído, fator que pode bloquear a atividade do gene HNMT e causar acúmulo de histamina no corpo.
rs1799836 - alelo de risco C
Gene MTHFR - está envolvido no processo de metilação do DNA, fator necessário para a degradação da histamina intracelular pelo gene HNMT. Alterações nesse gene podem ocasionar baixa metilação e levar ao acúmulo de estrogênio no corpo estimulando os mastócitos a liberar histamina e, com isso, diminuir a atividade da enzima DAO, favorecendo por outra via, maior acúmulo de histamina no corpo. Principais polimorfismos:
MTHFR C677T - rs1801133 - alelo de risco T
MTHFR A1298C - rs1801131 - alelo de risco
Gene ALDH2 - Este gene codifica a enzima aldeído desidrogenase (ALDH), principal catalisador para a oxidação do acetaldeído durante o metabolismo do álcool, atuando na eliminação do acetaldeído através da conversão em ácido acético. Principal polimorfismo:
ALDH2 - rs671 – alelo de risco A
Teste de provocação com histamina - esse teste é pouco realizado porque esse aumento de histamina pode desencadear sintomas inesperados e, muitas pessoas que não apresentam a intolerância a histamina podem apresentar sintomas devido a sobrecarga de histamina.
GERENCIAMENTO DA INTOLERÂNCIA A HISTAMINA
Suspender os medicamentos que interferem na função da DAO
Veja abaixo na tabela 1
Dieta restringindo alimentos ricos em histamina e outras aminas biogênicas
ALIMENTOS | ALIMENTOS NÃO PERMITIDOS | ALIMENTOS PERMITIDOS |
---|---|---|
CEREAL E TUBÉRCULOS |
| Arroz, aveia, espelta, milho, painço, quinoa, trigo, trigo sarraceno, batata doce, batata, mandioca, etc. |
FRUTAS E NOZES | Morangos e frutas vermelhas, mamão, abacate, frutas cítricas (laranja, toranja, tangerina, limão, kiwi e abacaxi), banana, ameixa, nozes (nozes, amendoim, amêndoa, castanha de caju e avelã) | Damasco, cerejas, romã, figo, manga, maçã, pêssego, melão, pêra, uva, melancia, pinhões, etc |
VEGETAIS E VERDES | Picles de vegetais (por exemplo, chucrute, azeitonas), abobrinha, abóbora, espinafre, berinjela e tomate | Acelga, alcachofra, brócolis, cebola, erva-doce, verde feijão, aspargos, alface, pimentão, beterraba, cenoura, etc |
LEITE E DERIVADOS E SUBSTITUTIVOS | Queijos envelhecidos, semi-envelhecidos e ralados, leite e iogurte | Queijos frescos, bebidas vegetais, fermentados e produtos feitos de soja ou outras plantas ("iogurte" à base de plantas) |
LEGUMES E DERIVADOS | Tofu e tempeh | Feijão, grão de bico, lentilha, soja, etc. |
PEIXE E FRUTOS DO MAR | Peixe enlatado ou semi-enlatado (atum enlatado, anchovas, sardinhas ou cavala, anchovas em vinagre, salmão fumado, etc.) e frutos do mar. | Peixe fresco ou congelado, choco (Cuttlefish), lula, polvo, etc. É importante garantir que esses alimentos estejam frescos no momento da compra. Caso contrário, é preferível comprá-los diretamente congelados. |
OVOS | Clara | Gema |
CARNE E FRANGO | Embutidos (salsicha, chorizo, linguiça, etc.), vísceras (fígado, rins, etc.) | Carne fresca ou congelada |
SUCOS E BEBIDAS | Suco de laranja, suco de tomate, bebidas alcoólicas e chá | Água e café. |
AZEITE, GORDURA E MANTEIGA |
| Azeite e sementes, creme de gergelim torrado (tahini), manteiga |
CONDIMENTOS | Vinagre, molho de soja e molho de tomate | Orégano, manjericão, cúrcuma, gengibre, hortelã, sal, açúcar, mel e adoçantes |
OUTROS | Chocolate, geléia de frutas cítricas, doces e bolos contendo alimentos excluídos | Alfarroba, compotas e sorvetes feitos de frutas adequadas, sementes de chia e linho, girassol e sementes de abóbora |
Após um mês sem a presença dos sintomas, esses alimentos podem voltar a ser introduzidos em baixa quantidade.
Um cuidado especial precisa ser tomado no armazenamento de alimentos proteicos que aumenta o risco de acúmulo de aminas biogênicas devido a presença de microrganismos que geram histamina durante o armazenamento.
Melhora da microbiota intestinal
O aumento das Bifidobacterium na microbiota intestinal confere maior proteção contra a intolerância a histamina.
Alguns estudos asssociam também o aumento dos Lactobacillus, comumente usandos como suplementos, com a maior produção de histamina e portanto prejudiciais na intolerância a histamina
L casei
L. paracasei
L. bulgaricus
L. rhamnosus
L. plantarum
L. curvatus
L. delbrueckii
L. helvético
L. lactis
Tratamento da hiperpermeabilidade intestinal
Anti histamínicos
Podem ser usados por curto período de tempo. A preferencia inicial é pelos bloqueadores H1 sendo que os H2 podem ser utilizados quando houver predominancia de sintomas gastricointestinais.
Suplementações de vitaminas e minerais
Suplementação de vitaminas e minerais que estejam em deficiência no organismo. O cobre, zinco, vitamina C e vitamina B6 são cofatores da enzima DAO.
Os doadores metil, como SAME, vitamina B12 e B9 (folatos) auxiliam na função da enzima HNMT que faz a quebra intracelular da histamina.
Outros nutrientes com a glutamina são importantes no tratamento da permeabilidade intestinal.

Saiba mais
Jochum C.Nutrients. 2024 Apr 19;16(8):1219. doi: 10.3390/nu16081219
Study Protocol for a Prospective, Unicentric, Double-Blind, Randomized, and Placebo-Controlled Trial on the Efficacy of a Low-Histamine Diet and DAO Enzyme Supplementation in Patients with Histamine Intolerance.
Duelo A, Sánchez-Pérez S, Ruiz-Leon AM, Casanovas-Garriga F, Pellicer-Roca S, Iduriaga-Platero I, Costa-Catala J, Veciana-Nogués MT, Fernández-Solà J, Muñoz-Cano RM, Bartra J, Combalia A, Comas-Basté O, Casas R, Latorre-Moratalla ML, Estruch R, Vidal-Carou MC.Nutrients. 2024 Dec 25;17(1):29.
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