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Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

A IMPORTÂNCIA DO SAL NA PAPINHA. O PAPEL DO IODO NA SAÚDE.

Atualizado: 14 de abr. de 2024

O iodo é considerado um micronutriente essencial à saúde humana, pois é obtido exclusivamente por meio dos alimentos ou suplementos de iodo, e sua falta acarreta graves danos ao organismo em todas as faixas etárias.


A deficiência de iodo pode levar a um amplo espectro de doenças ao longo da vida.


Um dos órgãos aonde a presença de iodo é indispensável é a glândula tireoide. Os hormônios que a tireoide produz tem iodo na sua constituição, a Triiodotironina (T3) tem na sua composição 3 moléculas de iodo e a Tiroxina (T4) tem 4 moléculas de iodo, ou seja, sem a presença de iodo tanto o T3 quanto o T4 não são produzidos adequadamente.


Várias doenças da tireoide provém da falta de iodo na alimentação.


IODO NA GESTAÇÃO


As necessidades de iodo durante a gestação são maiores para atender às necessidades fetais e maternas porque, nesse período, a gestante produz uma quantidade maior de hormônios da tireoide.


Tanto o feto, quanto a criança pequena, são extremamente vulneráveis à deficiência de iodo. Mas, a necessidade de iodo se torna ainda mais óbvia nos estágios iniciais da vida intrauterina, uma vez que as necessidades maternas de iodo nesse período são aumentadas e que a ingestão adequada de iodo na gravidez é necessária para que o neurodesenvolvimento ideal do feto, podendo, na falta de iodo, haver consequências neurológicas muitas vezes irreversíveis, além de retardo no crescimento e no desenvolvimento do sistema nervoso central.


Por este motivo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) e o Conselho Internacional para Controle dos Distúrbios por Deficiência de Iodo (CICDDI) recomendam para gestantes e nutrizes a ingestão de pelo menos 200 µg de iodo diariamente, o que corresponda a algo em torno de 4 a 13g de sal ao dia (Essa variação decorre da variação do teor de iodo no sal

de cozinha permitida pela legislação vigente).


Já o Instituto de Medicina dos Estados Unidos, por sua vez, recomenda a ingestão diária de 220 µg de iodo


A falta de iodo durante a gestação pode também causar sérias complicações obstétricas como parto prematuro, abortos e é responsável pelo aumento da mortalidade perinatal.


Durante a primeira metade da gestação, a tireoide fetal fica inativa, então o feto é totalmente dependente da tiroxina de origem materna. Apesar do fato de a tireoide fetal começar a funcionar entre 18 e 20 semanas de gestação o suprimento de iodo ainda permanece sendo fornecido apenas pela mãe. O Instituto de Medicina dos Estados Unidos (IOM) estima que a transferência de iodo da mãe para o feto seja em torno de 75 µg/dia. Outro fator que aumenta as necessidades de iodo durante a gestação é que a taxa de eliminação de iodo na urina nesse período é maior.


A falta de iodo na gestação pode causar no bebê deficiência mental, deficiência no crescimento, bócio, hipotireoidismo e surdo mudez. Recentemente alguns estudos científicos associaram a falta de iodo no inicio da gestação a atraso de linguagem infantil, problemas de comportamento e redução das habilidades motoras finas na idade de três anos. Outros autores tem levantado a hipótese, que ainda necessita de mais estudos para ser confirmada, de que a a deficiência de iodo na gestação seja relacionada ao TDHA e a quadros de autismo.


IODO NA PAPINHA E NOS PRIMEIROS ANOS DE VIDA


O iodo é muito importante para os bebês pois atua diretamente no desenvolvimento do cérebro, promovendo o desenvolvimento de regiões cerebrais essenciais que trarão benefícios ao bebê ao longo de toda a sua vida, sendo necessário para o crescimento e desenvolvimento normal.


Embora os esforços internacionais de saúde pública nas últimas décadas tenham sido altamente eficazes, quase um terço das crianças em todo o mundo permanecem em risco de deficiência de iodo.


A deficiência de iodo continua sendo a maior causa de retardo mental evitável em todo o mundo, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), constituindo importante problema de saúde pública com prejuízos significativos ao desenvolvimento social e econômico de diversos países. Embora no Brasil a deficiência de iodo não seja mais considerada um problema de saúde pública ela ainda ocorre em diversas regiões do país.


Durante os primeiros anos de vida, um bebê recebe o leite materno que contém iodo vindo da alimentação materna. Nesse período a recomendação de iodo na alimentação materna está em torno de 225 a 350 µg ao dia o que corresponde a uma faixa de 5 a 15 g de sal ao dia.


Em um estudo realizado em Minas Gerais, em 2015, a mediana de iodo no leite observada no leite materno foi 176,95 µg/L com uma variação de 65,8 294,3 µg/L


As mães que fazem a comida em casa e utilizavam tempeiros caseiros ao invés de industrializados apresentava o teor de iodo no leite materno menor. Vários outros fatores influenciam no teor de iodo no leite materno, inclusive a idade da mãe e o nível social.


Quando se inicia o desmame, e a quantidade de leite materno oferecida ao bebê diminui,

o fornecimento de iodo precisa continuar a acontecer pelo acréscimo de sal nas papinhas.



IODO NA INFÂNCIA


Na infância, a deficiência de iodo na alimentação pode causar dificuldade escolar, hipotireoidismo e baixo crescimento entre outros problemas de saúde.


Alguns estudos mostraram um consumo excessivo de iodo nessa faixa etária, associado ao consulto de alimentos industrializados como salgadinhos, batata frita e biscoitos salgados.


IODAÇÃO DO SAL


A quantidade de iodo nos alimentos depende da proximidade com o mar (as chuvas podem levar iodo do mar para outros solos que não são tão ricos), do tipo de solo, do tipo de fertilizante usado no solo, da intensidade das chuvas que caem nesse solo, entre outros, portanto há grande variação do conteúdo de iodo nos alimentos.


Por esse motivo, a população de muitas regiões no Brasil desenvolveu uma grave deficiência de iodo que passou a ser corrigida no Brasil na década de 50 pela iodação do sal de cozinha. O sal foi o alimento escolhido para a iodação uma vez que é consumido pela grande maioria da população.


Desde 2013 a ANVISA determinou que a adição do iodo no sal de cozinha deverá ficar entre 15 e 45 miligramas por quilo de sal, tornando o sal de cozinha a principal fonte de iodo na alimentação das pessoas.


O sal iodado deve ser adequadamente guardado e armazenado, pois o calor e a umidade elevados podem levar à perda de concentração de iodo. Contudo, a falta de informações acerca do acondicionamento adequado do sal domiciliar (proteção contra variações de temperatura e umidade) pode contribuir para uma perda aumentada nos níveis de iodo presente no sal determinando assim outra provável causa da ingestão insuficiente de iodo.


Alimentos derivados do mar, como peixes e crustáceos, também são boas fontes além do sal. Populações que crescem longe de áreas litorâneas ou cujos alimentos são cultivados em solo pobre em iodo vão apresentar uma deficiência de iodo.


EXCESSO DE IODO


Apesar da principal preocupação ser a carência do iodo, o excesso também é prejudicial pra saúde: aumenta o riso de Tireoidite de Hashimoto, que é uma doença autoimune da tireoide, além de estar correlacionado com o aumento dos casos de câncer da tireoide.




Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.




Para saber mais:

Velasco I, Bath SC, Rayman MP. Nutrients. 2018 Mar 1;10(3):290.


Pearce EN. Endocr Dev. 2014;26:130-8.


Estado nutricional de iodo materno durante gestação e lactação e sua relação com deficiência de iodo em recém-nascidos e lactentes no município de Diamantina MG




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