O leite materno é a fonte de nutrientes de eleição para o recém-nascido. Sua composição varia ao longo da lactação com a produção de três tipos de leite: colostro, leite de transição e leite maduro.
Diferente do que se pensava antes, o leite materno não é estéril, e sim uma fonte de bactérias importantes para colonizar o intestino infantil dando origem ao microbioma intestinal do bebê que é de extrema importância para a saúde. Ele atua na proteção da mucosa intestinal evitando alterações da permeabilidade intestinal, participa da formação do sistema imune, metabólico e neuroendócrino.
As principais bactérias do leite mateno são as dos generos Staphylococcus, Streptococcus, Corynebacterium, Cutibacterium (anteriormente conhecido como Propionibacterium ), Lactobacillus , Lactococcus e Bifidobacterium. No leite materno podem ser encontradas mais de 800 espécies bacterianas diferentes, principalmente de quatro filos principais (Firmicutes, Actinobacteria, Bacteroidetes e Proteobacteria).
Além das bactérias, estudos mostraram a presença de vírus, arquéias, fungos e protozoários no leite humano. Elas vêm do intestino materno, de onde são transportadas até às glândulas mamárias através de células dendríticas.
Além da presença de uma enorme quantidade de bactérias o leite humano apresenta mais de 200 tipos de oligossacarídeos (HCMO). Embora não sejam utilizados para nutrir o bebê, são o 3º nutriente em abundância encontrado no leite materno, depois da lactose e das gorduras. Esses oligossacarídeos tem a função de nutrir as bactérias do intestino auxiliando o seu crescimento e a formação de colônias. O leite materno tem cinco vezes mais tipos diferentes de HMOs do que o leite de vaca e várias centenas de vezes mais quantidade. Até o leite do chimpanzé é pobre em HMOs em comparação com o da nossa espécie.
Então, além de aportar as bactérias que irão compor o microbioma do bebê, o leite materno trás também o alimento necessário para a sobrevivência e crescimento dessas bactérias.
Existe uma grande variabilidade inter e intraindividual na composição do leite materno, e a contribuição dessas variações para o desenvolvimento infantil ainda não é completamente compreendida. Fatores maternos e infantis, incluindo estágio de lactação, índice de massa corporal (IMC) pré-gestacional materno, ganho de peso durante a gravidez, tipo de parto, localização geográfica, antibióticos, paridade, sexo do bebê e também o método de amamentação, todos moldam a composição da microbiota do leite materno.
Diversos estudos tem salientado a grande importância da alimentação materna na composição da microbiota do leite materno, evidenciando a importância da alimentação materna saudável.
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Fernández L, Pannaraj PS, Rautava S, Rodríguez JM.
Front Cell Infect Microbiol. 2020 Nov 20;10:586667
Maternal Diet Shapes the BreastMilkMicrobiota Composition and Diversity: Impact of Mode of Delivery and Antibiotic Exposure.
Cortes-Macías E, et all.
J Nutr. 2021 Feb 1;151(2):330-340.
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