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Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

MITOCONDRIAS NA SAÚDE E NA DOENÇA

Por muito tempo, os pesquisadores acreditavam que todo o nosso DNA ficava concentrado apenas no núcleo das células. Foi em 1963 que um casal de pesquisadores da Universidade de Estocolmo descobriu a existência do DNA fora do núcleo, em estruturas chamadas mitocôndrias, que são os centros produtores da energia das nossas células. Ao contrário do DNA nuclear, que vem de ambos os pais, o DNA mitocondrial vem apenas da mãe.


Centenas de mitocôndrias estão presentes na maioria das células do corpo e atuam em diversos processos metabólicos, incluindo a produção de bioenergia (ATP) necessária para o funcionamento do organismo. O cérebro é o órgão do corpo que mais utiliza energia para a realização das suas funções.


As doenças genéticas mitocondriais, descobertas em humanos em 1962 são muito raras e tem consequências gravíssimas, com sintomas no período neonatal e na infância. Atualmente a ciência tem se voltado ao estudo das disfunções mitocondriais e a diminuição do pool de mitocôndrias do organismo.


Atualmente, novas técnicas científicas permitiram que os pesquisadores avaliassem o pool de mitocôndrias do organismo através da dosagem do número de cópias do DNA mitocondrial no sangue. Essa nova tecnologia foi fundamental para a avaliação das disfunções mitocondriais, que são mais frequentes e podem comprometer a saúde física e mental. Elas podem afetar diversos órgãos que passam a ter sua função comprometida pela diminuição do aporte energético. A disfunção mitocondrial se acentua com a idade e acelera o envelhecimento biológico.



TEORIA DA ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DA SAÚDE E DA DOENÇA

A teoria da Origem do Desenvolvimento da Saúde e da Doença (DOHaD) postula que os fatores ambientais durante o desenvolvimento, possam causar deficiências na função mitocondrial, ou mesmo diminuição do pool mitocondrial do organismo, sendo associadas a doenças mais tarde na vida. O pool de mitocôndrias e as deficiências na sua função no início da vida pode ser então um biomarcador de saúde e doença na idade adulta.


Além de fatores genéticos, diversos fatores ambientais durante o período embrionário, fetal, neonatal e na primeira infância podem contribuir com essa diminuição do pool mitocondrial. O envelhecimento também é associado as disfunções mitocondriais e a diminuição do pool mitocondrial.


Diversos fatores ambientais estão associados a a disfunção mitocondrial:

  • Pesticidas;

  • Metais pesados;

  • Partículas de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (produzidos durante o processo de combustão);

  • Poluição do ar;

  • Aumento do estresse oxidativo e inlamatório;

  • Medicações (antibióticos, tyleno (paracetamol) e estatinas entre outros;

  • Infecções;

  • Privação ou excesso alimentar;

  • Estresse psicossocial materno


Figura 1. DNA mitocondrial e origens do desenvolvimento da saúde e da doença . O número de cópias do DNA mitocondrial aumenta ou diminui em resposta às mudanças ambientais. O estresse ambiental durante a vida fetal pode contribuir para o risco de doenças na idade adulta através do número de cópias do DNA mitocondrial.



A diminuição do pool mitocondrial e as disfunções mitocondriais estão associadas a:

  • Piora da função cognitiva e as demências;

  • TEA (Transtorno do espectro autista);

  • TDHA;

  • Síndrome de Down;

  • Maior prevalência de doenças neurodegenerativas;

  • Diabetes - Em um estudo recente, publicado na Nature, cerca de 2000 mulheres suecas de meia-idade foram acompanhadas. Esse estudo mostrou que havia uma redução do pool mitocondrial tanto em mulheres com diabetes tipo 2 como naquelas que desenvolveram diabetes tipo 2 durante o período de acompanhamento em comparação com aqueles que não desenvolveram diabetes tipo 2;

  • Doenças cardiovasculares;

  • Câncer;

  • Doenças do fígado;

  • Maior gravidade e da covid e maior prevalência de covid longa;

  • Sintomas pós virais de longa duração;

  • Morbidade e mortalidade infecciosa em pacientes com doença renal crônica.

  • Aumento da mortalidade por todas as causas;

  • Fadiga;

  • Doenças psiquiátricas (ansiedade, depressão, transtorno bipolar, esquizofrenia, entre outras).


FATORES QUE CONTRIBUEM PARA UMA MELHOR FUNÇÃO MITONCONDRIAL


Diversos fatores podem contribuir com a melhor função mitocondrial:


Alguns estudos vem sendo realizados, em pesquisas científicas, com a transfusão de mitocôndrias. Os mais recentes utilizaram essa transfusão em crianças submetidasa a cirurgia cardíaca. Esse procedimento foi associado ao melhor prognóstico cirurgico.





Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.



Para saber mais:


Fukunaga H.

Int J Mol Sci. 2021 Jun 21;22(12):6634.


Zhang Y, Liu X, Wiggins KL et all.

Neurology. 2023 May 2;100(18):e1930-e1943


Memon, A.A.; Sundquist, J.; Hedelius, A.; Palmér, K.; Wang, X.; Sundquist, K.

Sci. Rep. 2021, 11, 4608.


Yang, S.Y.; Castellani, C.A.; Longchamps, R.J.; Pillalamarri, V.K.; O’Rourke, B.; Guallar, E.; Arking, D.E.

Genome Res. 2021, 31, 349–358


Castellani CA, Longchamps RJ, Sun J, Guallar E, Arking DE.Mitochondrion. 2020 Jul;53:214-223.

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