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Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

NEUROINFLAMAÇÃO

Atualizado: 14 de abr. de 2024

A neuroinflamação é definida como a ativação do sistema imunológico inato do cérebro em resposta a um desafio inflamatório e é caracterizada por uma série de alterações celulares e moleculares no cérebro. A inflamação é o mecanismo de resposta natural do corpo para combater ameaças potenciais, convocando uma variedade de células imunológicas para um local danificado. Ao contrário da inflamação em outras partes do corpo, a neuroinflamação refere-se exclusivamente à inflamação que envolve o sistema nervoso, especialmente o sistema nervoso central. O processo inflamatório de curto prazo pode ser benéfico ao organismo. Os danos começam a ocorrer nos processos inflamatórios crônicos.

A neuroinflamação crônica pode causar ou agravar diversas condições psiquiátricas e neurológicas. A inflamação do cérebro pode ser ocasionada por um problema local do cérebro, como por exemplo um AVC, mas pode também ter origem nos demais órgãos do organismo.


A barreira hematoencefálica é a membrana que envolve e protege o cérebro. Se a permeabilidade dessa barreira estiver alterada, ela permitirá a entrada de substâncias nocivas no cérebro o que irá desencadear um processo inflamatório.


Os estudos mostram que uma das causas do aumento da permeabilidade da barreira hemato encefálica é o aumento da permeabilidade do intestino. Quando o revestimento intestinal é danificado, todos os tipos de substâncias indesejáveis - toxinas, partículas de alimentos não digeridos, bactérias e vírus, - podem passar facilmente para o sangue causando problemas de saúde.

Observou-se que a neuroinflamação, juntamente com o estresse oxidativo, são aspectos fundamentais que precisam ser levados em consideração nas doenças cerebrais e na sua progressão. A inflamação aumenta o estresse oxidativo que agrava o processo inflamatório dando origem a um ciclo vicioso. Juntos causam disfunção mitocondrial.


Causas da neuroinflamação:

  • Estresse crônico;

  • Estresses severos no passado;

  • Alimentação pobre em plantas e rica em produtos industrializados e farinhas refinadas,

  • Alteração da microbiota intestinal (flora intestinal) - disbiose

  • Privação do sono ou sono de má qualidade;

  • Obesidade visceral - ver figura 1;

  • Hipertensão arterial

  • Diabetes

  • Sedentarismo;

  • Covid-19;

  • Homocisteína alta;

  • Álcool,

  • Fumar,

  • Doenças autoimunes,

  • Infecções persistentes,

  • Exposição a poluição, agrotóxicos, metais pesados, pesticidas entre outros,

  • Traumas encefálicos;

  • Autismo;

  • TEA;

  • Medicamentos,


Figura 1 - Obesidade, neuroinflamação e disfunção mitocondrial. O consumo excessivo de alimentos na obesidade pode levar à disfunção mitocondrial caracterizada pelo aumento dos níveis de espécies reativas de oxigênio (ROS), aumento dos níveis de óxido nítrico (NO), diminuição do conteúdo proteico de PGC-1α e Mfn1/Mfn2 e diminuição do potencial de membrana mitocondrial (ΔΨm). A obesidade está associada ao aumento dos níveis de citocinas inflamatórias no cérebro e compromete a viabilidade neural.


Consequências da neuroinflamação no metabolismo cerebral:

  • Diminuição dos substratos necessários para a síntese de neurotransmissores como serotonina, dopamina, noradrenalina;

  • Excesso da neurotransmissão glutamatérgicas e excito toxicidade glutamatérgica que causa aumento da excitotoxicidade neuronal, diminuição do número de sinapses e diminuição do BDNF (fator neurotrófico derivado do cérebro) que é molécula-chave na manutenção da plasticidade sináptica, na sobrevivência das células neuronais e da neurogênese;

  • Diminuição da neurogênese hipocampal;

  • Hiperexcitabilidade neuronal;

  • Disfunção sináptica;

  • Disfunção mitocondrial;

  • Aumento da oxidação e inflamação;

  • Neurodegeneração.

Consequências clínicas da neuroinflamação:


A neuroinflamação pode ser um fator causal ou agravar diversas condições:

  • Fadiga;

  • Falta de foco;

  • Distúrbios cognitivos como perda de memória e dificuldade de raciocínio;

  • Distúrbios do humor como ansiedade e depressão,

  • Autismo - múltiplas hipóteses convergem para sugerir que a neuroinflamação, ou pelo menos a interação entre os sistemas imunológico e neural, pode estar envolvida na etiologia de alguns casos ou grupos de TEA. Evidências repetidas de disfunção imunológica inata foram observadas no TEA, frequentemente associadas à piora de comportamentos.

  • Demências;

  • TDHA (Déficit de Atenção e Hiperatividade);

  • Alzheimer;

  • Parkinson;

  • Esclerose Múltipla;

  • ELA.

Um estudo interessante, realizado em 2019 no Reino Unido, avaliou a inflamação crônica na meia-idade e constatou que ela pode causar problemas de memória e pensamento mais tarde na vida. Os investigadores acompanharam 12.336 homens e mulheres, com idade média de 57 anos, atribuindo-lhes uma “pontuação composta de inflamação” baseada em exames de sangue e avaliação cognitiva. Depois de controlar a idade, a escolaridade, a pressão arterial, o colesterol, as doenças cardíacas e muitos outros fatores, descobriram que quanto maior o número de fatores inflamatórios, mais acentuado é o declínio cognitivo ao longo de 20 anos de acompanhamento. A inflamação foi mais fortemente associada ao declínio da memória e ao risco de demências.


Como tratar a neuroinflamação


  • Alimentação saudável rica em plantas com cores diversas ricos em vitaminas e bioflavonóides,

    • Omega 3,

    • Jejum intermitente,

    • Dieta cetogênica,

    • Dieta mediterrânea ,

  • Microbiota intestinal saudável - a neuroinflamação no cérebro pode ter origem no intestino através da comunicação entre o sistema entérico e o SNC, que é chamado de eixo intestino-cérebro;

  • Gerenciamento do estresse: yoga, meditação, atenção plena,

  • Contato com a natureza

  • Atividade física moderada - O exercício moderado é definido como exercícios que aumentam a frequência cardíaca 50–60% acima da frequência de repouso.

  • Sono adequado

  • Parar de fumar

  • Consumo leve ou moderado de álcool - o consumo moderado é definido como um máximo de duas bebidas padrão diárias para mulheres e três para homens.

  • Vitamina D em níveis adequados.

  • Evitar a exposição a substâncias tóxicas como agrotóxicos, pesticidas e metais pesados,


















Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.


Para saber mais:

Neurosci frontal. 2023; 17: 1092537.

Yu Chen, Fu Peng, et all

Front Immunol. 2022; 13: 1006434.


Keenan A. Walker, Rebecca F. Gottesman, et all.

Neurology. 2019 Mar 12;92(11):e1256-e1267


Pascual M, Calvo-Rodriguez M, Núñez L, Villalobos C, Ureña J, Guerri C.

IUBMB Life. 2021 Jul;73(7):900-915.


Schmitt LO, Gaspar JM.

Metabolites. 2023 Jan 5;13(1):86.


Rauf A, Badoni H, Abu-Izneid T, Olatunde A, Rahman MM, Painuli S, Semwal P, Wilairatana P, Mubarak MS.

Molecules. 2022 May 17;27(10):3194.



Hughes HK, R J Moreno, Ashwood P.

Brain Behav Immun. 2023 Feb;108:245-254.


Veselinović A, Petrović S, Žikić V, Subotić M, Jakovljević V, Jeremić N, Vučić V.

Medicina (Kaunas). 2021 Aug 28;57(9):893.


Endocannabinoid Signaling in Autism.Chakrabarti B, Persico A, Battista N, Maccarrone M.Neurotherapeutics. 2015 Oct;12(4):837-47.


Excitotoxicity, calcium and mitochondria: a triad in synaptic neurodegeneration.Verma M, Lizama BN, Chu CT.Transl Neurodegener. 2022 Jan 25;11(1):3.

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