O aumento de peso entre crianças e adolescentes vem aumentando nas últimas décadas. Muitas famílias imaginam que, com o crescimento, o excesso de peso irá se normalizar, o que na grande maioria dos casos não ocorre. Atualmente os estudos estimam que 75% dessas crianças e adolescentes obesos permanecerão obesos na idade adulta.
Os pais e familiares muitas vezes tem uma grande dificuldade em perceber que seus filhos tem excesso de peso. Muitas vezes, mesmo quando consideram que os filhos tem um aumento de peso, não consideram que diversas medidas precisam ser tomadas para que o peso se normalize, achando que com o tempo o peso voltará a ser adequado.
Em um estudo sobre a percepção que os pais tem sobre o peso dos filhos, mais de três quartos dos pais de filhos obesos, em idade pré-escolar, e quase 70% dos pais de filhas obesas descreveram seus filhos como "com o peso certo".
Além do excesso de peso não diminuir com a idade, o que se observa é uma piora do quadro. Ao excesso de peso se associam outros efeitos deletérios a saúde como o diabetes, síndrome metabólica, hipertensão arterial , problemas ortopédicos e diversos problemas psicológicos associados a esse quadro. É muito comum que na escola a criança ou o adolescente recebam apelidos pejorativos, apresentem uma queda na auto estima, sofram de depressão, ansiedade e de exclusão social e, muitas vezes, temendo expor o corpo parem de fazer exercícios, tudo isso contribuindo para a piora do quadro.
Recentemente os estudos mostraram também um aumento do risco cardiovascular, sendo que 50% dessas crianças apresentam, pelo menos, um fator de risco para doença cardiovascular (DCV). A doença aterosclerose começa na infância e/ou adolescência e se nenhuma medida para normalização do peso for realizada, ela resultará em doença cardiovascular no adulto.
Um estudo que acompanhou mais de 257.623 pessoas, realizado pelo Instituto de Medicina Preventiva, na Dinamarca, e do Hospital Frederiksberg em Copenhague, agrupou crianças de acordo com desvios padrão de um IMC (índice de massa corporal) médio, ajustado para uma criança idade e sexo. Eles descobriram que cada unidade de aumento de excesso de peso aos 13 anos, geralmente correspondendo a um aumento de dois a três pontos no IMC, aumentava o risco de desenvolver câncer de cólon em 9 %, sendo que o risco de câncer de cólon sigmóide aumentou 11%.
O tratamento da obesidade na infância e na adolescência passa obrigatoriamente por modificações no estilo de vida, com aumento da atividade física, sono adequado e restrição do tempo de telas:
Seja ativo à sua maneira e encontre maneiras de se exercitar e ser ativo por pelo menos 1 hora por dia, como caminhar para a escola, andar de bicicleta ou praticar esportes com os amigos.
Diminua o tempo recreativo de telas a menos de 2 horas ao dia.
Mas, o carro chefe no combate a obesidade é a mudança no estilo alimentar:
Coma mais frutas e vegetais e faça metade do prato de frutas e vegetais todos os dias!
Experimente grãos inteiros e peça farinha de aveia, pão integral ou arroz integral nas refeições.
Troque sucos, refrigerantes e outras bebidas adoçadas por água.
Concentre-se na proteína magra para alimentos proteicos como feijão, peixe, carnes magras e nozes.
Reduza os doces: coma doces apenas de vez em quando e em pequenas quantidades.
Reduza o consumo de alimentos industrializados ultraprocessados como biscoitos, salgadinhos, refrigerantes, achocolatados, cereais matinais e afin
O ponto mais importante para que as crianças e adolescentes consigam vencer essa batalha é considerar essa mudança alimentar, não como uma dieta passageira, e sim como uma nova forma mais saudável de se alimentar, que precisará ser incorporada ao seu dia a dia.
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Change in Misperception of Child's Body Weight among Parents of American Preschool Children
Dustin T Duncan et all
Child Obes. 2015 Aug;11(4):384-93.
Childhood body mass index and height in relation to site-specific risks of colorectal cancers in adult life
Britt W Jensen 1, et all
Eur J Epidemiol. 2017 Dec;32(12):1097-1106.
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