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Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

OBESIDADE – O QUE OS ESTUDOS DO MICROBIOMA EM ANIMAIS NOS DIZEM.

Atualizado: 11 de dez. de 2023


Os camundongos, assim como os humanos, têm uma microbiota importante, principalmente no intestino.


Muitos estudos são feitos com camundongos estéreis, ou seja, desprovidos de microbiota. Esses camundongos nascem através de uma cesariana e depois são mantidos em câmaras esterilizadas e não possuem quaisquer micróbios dentro deles o que permite colonizá-los com diferentes tipos de microbiota para avaliar o efeito desses micróbios no intestino.

Esses camundongos estéreis são muito particularmente magros e os pesquisadores atribuíram esse peso à falta de micróbios em seu intestino.


Vários estudos foram feitos para observar o efeito de vários microbiomas diferentes.


Um dos estudos colocou-os em contato com o microbioma de camundongos nascidos de parto normal e eles desenvolveram um novo microbioma semelhante aos desses animais nascidos de parto normal. E os pesquisadores foram surpreendidos pelo aumento do peso desses camundongos que apresentaram um aumento de 60% em seu peso corporal no espaço de quatorze dias. E estavam comendo menos.


Os micro-organismos que vivem no intestino estavam comendo as partes indigeríveis da dieta, mas ninguém jamais tinha se dado conta de quanto essa segunda rodada de digestão contribuía para a absorção de energia. Com micróbios os ajudando a ter acesso a mais calorias em sua dieta, os camundongos podiam sobreviver com menos comida.


A contribuição da microbiota extrair mais energia dos alimentos que ficaram disponíveis para o hospedeiro foi um fato novo nos conceitos nutricionais, aquilo realmente causou espanto. Se a microbiota determinava quantas calorias os camundongos conseguiam extrair de seu alimento, será que ela estava envolvida na obesidade?


CAMUNDONGOS GENETICAMENTE OBESOS


Cepas geneticamente obesa de camundongos conhecidos como ob/ob que devido a uma mutação genética tem três vezes o peso de um espécime normal, são praticamente redondos, se alimentam o tempo todo. São obesos e insaciáveis.


Esses camundongos obesos tem uma microbiota diferente dos camundongos magros, assim como na espécie humana, as pessoas magras tem uma microbiota diferente das pessoas obesas.


Embora a maioria das espécies intestinais de camundongos sejam únicas, a microbiota de camundongo e humana são semelhantes no nível de divisão (super-domínio), com predominância de Firmicutes e Bacteroidetes. No entanto, em comparação com camundongos magros os animais ob / ob têm uma redução de 50% na abundância de Bacteroidetes e um aumento proporcional no Firmicutes.


Será que os micróbios presentes em camundongos e seres humanos obesos estariam causando a obesidade ou seriam apenas uma consequência dela? Para responder essa pergunta 2 experimentos foram criados.


No primeiro a microbiota de camundongos obesos foi transferida para camundongos livres de germes.


No segundo os micróbios de espécimes normais foram transferidos para um segundo conjunto de camundongos livres de germes.


Ambos os conjuntos de camundongos estéreis receberam exatamente a mesma quantidade de comida, mas, quatorze dias depois, os que tinham sido colonizados pela microbiota dos obesos haviam engordado, enquanto os que haviam recebido a microbiota dos ratos magros não engordaram.


O experimento mostrou que os micróbios do intestino de camundongos obesos quando passados para outro camundongo podiam fazê-lo engordar.


Será que poderíamos então transferir micro-organismos de pessoas esguias para pessoas obesas, fazendo com que percam peso sem precisar de dieta?

MAIOR EXTRAÇÃO CALÓRICA DOS ALIMENTOS


Os micróbios associados à obesidade extraem mais energia do alimento. Esse detalhe é suficiente para derrubar um dos princípios básicos da equação da obesidade. Contar calorias não se resume a controlar o que uma pessoa come – o que importa é a quantidade de energia que ela absorve.


Os camundongos com a microbiota “obesa” absorveram 2% mais calorias de sua alimentação. Para cada 100 calorias que os camundongos esguios absorviam, os camundongos obesos absorviam 102. Não parece muito, mas, no decorrer de um ano ou mais, faz diferença.

O QUE ESSA MAIOR EXTRAÇÃO PODERIA REPRESENTAR NO SER HUMANO


Vamos tomar como exemplo uma mulher de 1,62 m, que pesa 62 kg e que consome 2 mil calorias por dia. Se ela tiver uma microbiota “obesa”, a absorção de 2% mais calorias representa quarenta calorias a mais por dia. Sem despender energia extra, essas quarenta calorias adicionais devem corresponder, ao menos em teoria, a um aumento de peso de 1,9 kg no decorrer de um ano, que ao longo de 10 anos somam 19 kg aos 62 kg iniciais, elevando seu peso para 81 kg.


Essa mulher que antes tinha um peso normal, 10 anos depois se tornou obesa por causa de um pequeno aumento de 2% na absorção de calorias pelas bactérias do intestino. Embora seja um números pequenos, faz a diferença.






Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.




Para saber mais:

Microbes and diet-induced obesity: fast, cheap, and out of control Peter J. Turnbaugh. Cell Host Microbe. 2017 Mar 8; 21(3): 278–281.

Obesidade altera ecologia microbiana intestinal. Ruth E Ley et all.

Proc Natl Acad Sci EUA; 2005; 102 (31): 11070-5.


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