O número de pessoas que referem sentir-se melhor, com a diminuição de diversos sintomas variados, gástricos ou não, após a retirada do trigo ou do glúten da alimentação, cresce a cada dia. A sensibilidade ao glúten não decorrente da doença celíaca tem sido tópico de muitos estudos recentes.
Existe muita dificuldade na realização de estudos científicos sobre essa doença, uma vez que os sintomas apresentados se entrelaçam ao de diversas outras doenças intestinais, a fisiopatologia ainda não foi completamente estabelecida, os exames de imagem e a colonoscopia são normais e não existem exames laboratoriais capazes de estabelecer o diagnóstico com precisão.
Recentemente, os estudos têm focado nas alterações do microbioma intestinal que apresentam alterações muito significativas nas pessoas que tem sensibilidade ao glúten.
Muitos autores preferem o termo sensibilidade ao trigo não celíaca devido ao grande número de outros componentes do trigo, além do glúten, que são capazes de estarem associados a sintomatologia encontrada.
SINTOMAS
Os sintomas geralmente manifestados podem ser tanto gastrointestinais quanto de outras partes do corpo.
Os sintomas gastrointestinais são dor abdominal, diarreia ou constipação, náusea, vômito e flatulência.
Os sintomas gerais, fora do trato gastrointestinal, são cansaço, dor de cabeça, dor muscular e articular, sensação de cabeça “aérea”, ansiedade, depressão, esquizofrenia e autismo.
Esses sintomas melhoram ou desaparecem com a eliminação do trigo (glúten) da alimentação e retornam uma vez que o trigo (glúten) volte a dieta.
Muitos desses sintomas que melhoram com a exclusão do glúten também são encontrados na síndrome do intestino irritável e em outras doenças do intestino, como doença de Chron, entre outras.
MECANISMOS PROPOSTOS PARA A SENSIBILIDADE AO GLÚTEN NÃO CELÍACOS
1-INIBIDORES DE AMILASE-TRIPSINA (ATIs)
Os inibidores de amilase-tripsina são proteínas de albumina encontradas no trigo, representando até 4% do total de proteínas nos grãos. Eles são altamente resistentes às proteases intestinais e podem induzir a liberação de substâncias pró inflamatórias como as citocinas.
2- FODMAPs
FODMAP é uma sigla em inglês que significa “oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis fermentáveis”. Os compostos pertencentes ao grupo FODMAPs não são digeridos nem absorvidos no trato gastrointestinal. Eles têm um forte efeito osmótico e sofrem fermentação rápida no intestino, resultando em liquefação intestinal, produção excessiva de gases, inchaço e dor em algumas pessoas. Eles podem causar ou agravar os sintomas em pacientes suscetíveis com doença inflamatória intestinal e síndrome do intestino irritável. Os estudos atuais atribuem esses sintomas aos desequilíbrios da flora intestinal.
Os FODMAPs serão tratados no Post 7 (alimentação saudável).
3- EXORFINAS
A degradação da gliadina do trigo é obtida através da hidrolisação pela pepsina intestinal, resultando na liberação de peptídeos imuno-reativos e opióides, incluindo gliadinomorfina.
A decomposição adicional desses peptídeos, que são ricos em prolina, é dependente da enzima dipeptidil peptidase IV (DPP IV). Uma deficiência dessa enzima pode resultar na quebra incompleta dessa gliadinomorfina, com aumento desses opióides (exorfinas) no cérebro. Produtos lácteos e certos vegetais, como soja e espinafre, também contêm proteínas, que podem ser convertidas em exorfinas bioativas.
A gliadina do glúten e da caseína de produtos lácteos mostram uma especificidade surpreendentemente alta do substrato para o DPP IV, quando comparado com outros substratos endógenos do DPP IV.
Essas exorfinas do glúten têm efeito no trânsito gastro intestinal podendo causar diarreia ou constipação. Elas também influenciam no comportamento e na percepção da dor. Muitos autores acreditam que essa substância, por ser um opioide, tenha um efeito adverso em diversas doenças psiquiátricas e no autismo.
TRATAMENTO
O tratamento da sensibilidade ao trigo (glúten) não celíaca, até pouco tempo atrás, consistia na retirada do glúten da alimentação por tempo indeterminado.
Recentemente tem sido proposto a correção da microbiota intestinal para aumentar a proteção da mucosa intestinal e a melhor digestão dos alimentos, como forma de prevenção e tratamento dessa doença. Além disso, uma microbiota saudável aux
Medicina (Kaunas) 2019 Jun;ilia no equilíbrio do sistema imune que para de ter essa reação exagerada ao glúten.
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
55(6): 222. Non-Celiac Gluten Sensitivity: A Review Anna Roszkowska et all.
Nat Commun. 2018; 9: 4630. A low-gluten diet induces changes in the intestinal microbiome of healthy Danish adults. Lea B. S. Hansen et all.
Version 1. F1000Res. 2018; 7: F1000 Faculty Rev-1631.Recent advances in understanding non-celiac gluten sensitivity. Maria Raffaella Barbaro.
J Saúde Popul Nutr . 2015; 33: 24. The opioid effects of gluten exorphins: asymptomatic celiac disease
. Leo Pruimboom 1, 2 e Karin de Punder.
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