O super crescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO) ocorre devido ao crescimento excessivo de microrganismos no intestino delgado, que altera a fisiologia da pessoa de uma infinidade de maneiras, levando a sintomas e complicações gastrointestinais e não gastrointestinais.
O SIBO é uma causa comum de sintomas gastrointestinais inespecíficos como dor abdominal crônica, distensão abdominal, diarreia e/ou constipação e flatulência, entre outros. Atualmente tem sido associada inclusive com o baixo crescimento infantil, cansaço crônico e obesidade.
As interações do sistema gastrointestinal com o microbioma dependem do ácido gástrico, da bile, das secreções pancreáticas e digestivas, da motilidade intestinal e da função de barreira da válvula ileocecal (válvula que separa o intestino grosso do delgado), entre outros.
A microbiota intestinal mantém uma relação simbiótica vitalícia com o hospedeiro humano, fornecendo uma infinidade de funções importantes; desde a produção de vitaminas e ácidos graxos de cadeia curta (SCFA) à imunorregulação e secreção de neuropeptídios.
A microbiota do cólon (intestino grosso) é composta em grande parte por quatro filos bacterianos:
Actinobacteria – mais frequente no intestino infantil
Bifidobacterium
Firmicutes – vão aumentando em quantidade com o crescimento infantil para dominar após a infância
Faecalibacterium, Clostridium, Ruminococcus e Lactobacillus
Bacteroidetes
Bacteroides, Prevotella
Proteobacteria – nesse filo encontramos várias bactéria que podem se tornar patogênicas: Escherichia, Shigella, Salmonella, Klebsiella e Helicobacter, entre outros
Além dessa comunidade diversa de bactérias, o trato gastrointestinal humano também abriga uma ampla variedade de vírus, fungos e arquéias. As arqueas metanogênicas, ou seja, que produzem gás metano, como a Methanobrevibacter spp., foram também diretamente implicadas na SIBO.
A SIBO pode impactar as crianças negativamente de várias maneiras:
Fermentação de carboidratos bacterianos levando ao excesso de produção de gás e água,
Desconjugação bacteriana de ácidos biliares resultando em mal absorção de vitaminas lipossolúveis,
Alteração da absorção de macronutrientes e micronutrientes,
Diminuição das vilosidades levando à má absorção de carboidratos,
Diminuição da produção de ácidos graxos de cadeia curta,
Inflamação intestinal e sistêmica,
Aumento da permeabilidade intestinal.
FATORES DE RISCO
São considerados fatores de risco:
Terapias supressoras do ácido gástrico como o omeprazol, pantoprazol entre outras,
Alterações na motilidade e anatomia gastrointestinal,
Imunideficiência,
Doença celíaca,
Condições precárias de saneamento básico,
Cirurgias ou alterações anatômicas que alterem a fisiologia local,
Alimentação desequilibrada
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da SIBO ainda é tema de muita controvérsia devido à falta de uniformidade e consenso de seus critérios diagnósticos, bem como à escassez de literatura disponível.
Entretanto alguns exames podem auxiliar nesse diagnóstico:
Dosagem de hidrogênio (H2) e metano(CH4) no ar expirado
Os testes respiratórios de H2 e CH4 estão sendo usados cada vez mais para medir os gases derivados do metabolismo das bactérias. Estes testes tem grandes limitações devido a grande variação da sua especificidade e sensibilidade.
Em 2017, um consenso Norte-Americano definiu o diagnóstico de SIBO quando há um aumento de H2 de ≥20 ppm em relação à linha de base nos primeiros 90 minutos do teste com lactulose ou glicose, ou quando há um aumento de CH4 de ≥10 ppm em qualquer ponto do teste.
Cultura de material coletado no intestino delgado por biópsia
Embora seja considerado o padrão ouro para o diagnóstico de SIBO esse método é muito invasivo para ser usado em crianças, pois a coleta é feita com endoscopia.
Analise do microbioma fecal
A composição da microbiota intestinal é atualmente estudada por meio do sequenciamento de 16S rRNA, que é uma técnica moderna que tornou viável o custo da análise.
Os estudo em pacientes com SIBO tem mostrado uma redução da diversidade da microbiota, com aumento de Bacteroidetes e diminuição de Firmicutes, quando comparado com os indivíduos saudáveis do grupo controle. Além disso, pode ocorrer também a diminuição do gênero Lactobacillus, bem como vários gêneros associados à produção de butirato.
TRATAMENTO
Um dos primeiros tratamentos utilizados foram o antibióticos, mas eles precisam ser usados com muito critério porque matam também a microbiota saudável, o que dificulta muito a volta a um equilíbrio do microbioma.
Recentemente algumas pesquisas tem evidenciado efeitos muito positivos com a associação de:
Adequação alimentar, retirando os alimentos que causam fermentação em excesso (FOODMAPS) e os que estão causando alergias e intolerâncias alimentares,
Reposição de ácido clorídrico e enzimas digestivas caso necessárias,
Prebióticos,
Probióticos para corrigir os desequilíbrios encontrados na análise do microbioma intestinal.
Fitoterápicos com propriedades antimicrobianas
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
David Avelar Rodriguez, et all
Front Pediatr. 2019; 7: 363.
Brian Ginnebaugh et all.
Gastroenterol Clin North Am. 2020 Sep;49(3):571-587.