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Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

SIBO - SUPER CRESCIMENTO BACTERIANO DO INTESTINO DELGADO - NA INFÂNCIA.

Atualizado: 21 de mar. de 2024


O super crescimento bacteriano do intestino delgado (SIBO) ocorre devido ao crescimento excessivo de microrganismos no intestino delgado, que altera a fisiologia da pessoa de uma infinidade de maneiras, levando a sintomas e complicações gastrointestinais e não gastrointestinais.


O SIBO é uma causa comum de sintomas gastrointestinais inespecíficos como dor abdominal crônica, distensão abdominal, diarreia e/ou constipação e flatulência, entre outros. Atualmente tem sido associada inclusive com o baixo crescimento infantil, cansaço crônico e obesidade.


As interações do sistema gastrointestinal com o microbioma dependem do ácido gástrico, da bile, das secreções pancreáticas e digestivas, da motilidade intestinal e da função de barreira da válvula ileocecal (válvula que separa o intestino grosso do delgado), entre outros.


A microbiota intestinal mantém uma relação simbiótica vitalícia com o hospedeiro humano, fornecendo uma infinidade de funções importantes; desde a produção de vitaminas e ácidos graxos de cadeia curta (SCFA) à imunorregulação e secreção de neuropeptídios.


A microbiota do cólon (intestino grosso) é composta em grande parte por quatro filos bacterianos:

  • Actinobacteria – mais frequente no intestino infantil

    • Bifidobacterium

  • Firmicutes – vão aumentando em quantidade com o crescimento infantil para dominar após a infância

    • Faecalibacterium, Clostridium, Ruminococcus e Lactobacillus

  • Bacteroidetes

    • Bacteroides, Prevotella

  • Proteobacteria – nesse filo encontramos várias bactéria que podem se tornar patogênicas: Escherichia, Shigella, Salmonella, Klebsiella e Helicobacter, entre outros



Além dessa comunidade diversa de bactérias, o trato gastrointestinal humano também abriga uma ampla variedade de vírus, fungos e arquéias. As arqueas metanogênicas, ou seja, que produzem gás metano, como a Methanobrevibacter spp., foram também diretamente implicadas na SIBO.

A SIBO pode impactar as crianças negativamente de várias maneiras:

  • Fermentação de carboidratos bacterianos levando ao excesso de produção de gás e água,

  • Desconjugação bacteriana de ácidos biliares resultando em mal absorção de vitaminas lipossolúveis,

  • Alteração da absorção de macronutrientes e micronutrientes,

  • Diminuição das vilosidades levando à má absorção de carboidratos,

  • Diminuição da produção de ácidos graxos de cadeia curta,

  • Inflamação intestinal e sistêmica,

  • Aumento da permeabilidade intestinal.

FATORES DE RISCO


São considerados fatores de risco:

  • Terapias supressoras do ácido gástrico como o omeprazol, pantoprazol entre outras,

  • Alterações na motilidade e anatomia gastrointestinal,

  • Imunideficiência,

  • Doença celíaca,

  • Condições precárias de saneamento básico,

  • Cirurgias ou alterações anatômicas que alterem a fisiologia local,

  • Alimentação desequilibrada

DIAGNÓSTICO


O diagnóstico da SIBO ainda é tema de muita controvérsia devido à falta de uniformidade e consenso de seus critérios diagnósticos, bem como à escassez de literatura disponível.


Entretanto alguns exames podem auxiliar nesse diagnóstico:


Dosagem de hidrogênio (H2) e metano(CH4) no ar expirado


Os testes respiratórios de H2 e CH4 estão sendo usados cada vez mais para medir os gases derivados do metabolismo das bactérias. Estes testes tem grandes limitações devido a grande variação da sua especificidade e sensibilidade.


Em 2017, um consenso Norte-Americano definiu o diagnóstico de SIBO quando há um aumento de H2 de ≥20 ppm em relação à linha de base nos primeiros 90 minutos do teste com lactulose ou glicose, ou quando há um aumento de CH4 de ≥10 ppm em qualquer ponto do teste.

Cultura de material coletado no intestino delgado por biópsia


Embora seja considerado o padrão ouro para o diagnóstico de SIBO esse método é muito invasivo para ser usado em crianças, pois a coleta é feita com endoscopia.


Analise do microbioma fecal


A composição da microbiota intestinal é atualmente estudada por meio do sequenciamento de 16S rRNA, que é uma técnica moderna que tornou viável o custo da análise.


Os estudo em pacientes com SIBO tem mostrado uma redução da diversidade da microbiota, com aumento de Bacteroidetes e diminuição de Firmicutes, quando comparado com os indivíduos saudáveis do grupo controle. Além disso, pode ocorrer também a diminuição do gênero Lactobacillus, bem como vários gêneros associados à produção de butirato.

TRATAMENTO


Um dos primeiros tratamentos utilizados foram o antibióticos, mas eles precisam ser usados com muito critério porque matam também a microbiota saudável, o que dificulta muito a volta a um equilíbrio do microbioma.

Recentemente algumas pesquisas tem evidenciado efeitos muito positivos com a associação de:

  • Adequação alimentar, retirando os alimentos que causam fermentação em excesso (FOODMAPS) e os que estão causando alergias e intolerâncias alimentares,

  • Reposição de ácido clorídrico e enzimas digestivas caso necessárias,

  • Prebióticos,

  • Probióticos para corrigir os desequilíbrios encontrados na análise do microbioma intestinal.

  • Fitoterápicos com propriedades antimicrobianas




Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.



Para saber mais:


Front Pediatr. 2019; 7: 363.

Gastroenterol Clin North Am. 2020 Sep;49(3):571-587.


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