A síndrome do intestino irritável é um distúrbio funcional do trato gastrointestinal que se caracteriza por episódios de desconforto abdominal e causa redução da qualidade de vida.
Os sintomas principais são:
Dor;
Cólicas;
Alternância entre períodos de diarreia e prisão de ventre;
Flatulência exagerada;
Sensação de esvaziamento incompleto do intestino.
A síndrome do colón irritável acomete cerca de 11 a 15% da população mundial com uma grande variação no número de casos, indo de 7% no sul da Ásia e chegando a 20% da população idosa nos USA.
As causas da doença são múltiplas, mas a fisiologia não é muito bem compreendida. É um distúrbio gastrointestinal funcional (isto é, não está vinculado a danos nos tecidos ou outros marcadores biológicos), quando se examina o sistema digestivo de quem tem o problema, não se veem alterações anatômicas ou lesões.
Os fatores de risco para a síndrome do intestino irritável são vários, incluindo:
Predisposição genética
Estresse, ansiedade e / ou depressão
Sensibilidades alimentares
Crescimento excessivo de bactérias intestinais pequenas
Flutuações hormonais
Certos medicamentos, incluindo inibidores da bomba de prótons e antibióticos de amplo espectro
Infecções gastrointestinais
Descobertas recentes mostram que com certeza o microbioma tem um papel preponderante dentre todos esses fatores.
SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL E MICROBIOMA
Nos últimos anos, as pesquisas demostraram que as bactérias do microbioma intestinal desempenham um papel significativo na fisiopatologia da síndrome do intestino irritável e que indivíduos que apresentam essa doença tem perturbações no equilíbrio da microbiota intestinal.
A microbiota intestinal compreende mais de 3 trilhões de micróbios residentes no intestino com mais de 2 mil espécies microbianas diferentes. Em comparação com o genoma humano, existem cerca de 150 vezes mais genes no microbioma intestinal.
As bactérias mais abundantes na microbiota intestinal são Bacteroidetes e Firmicutes. A microbiota intestinal está em uma relação simbiótica com o hospedeiro, colhendo energia e nutrientes adicionais da dieta, protegendo a hospedeiro de patógenos (componentes nocivos do microbioma). Na síndrome do intestino irritável ocorre uma diminuição no número total das bactérias, com aumento dos microrganismos nocivos e redução da diversidade bacteriana.
Resultados consistentes mostraram aumento quantidades de Firmicutes e quantidades reduzidas de Bacteroides na síndrome do intestino irritável. Na maior parte dos casos os estudos foram encontrados uma redução das bifidobactérias, enquanto a suplementação com bifidobacterium causa melhora dos sintomas globais da síndrome do intestino irritável.
ANTIBIÓTICOS E MICROBIOTA
Pessoas que tomaram antibióticos por causas não ligadas a doenças intestinais tem 3 vezes mais chance de desenvolver a síndrome do intestino irritável devidas as alterações na flora intestinal que ele provoca.
EIXO MICROBIOTA-INTESTINO-CÉREBRO
Algumas evidências sugerem que a comunicação alterada entre o cérebro e o intestino pode contribuir para a hipersensibilidade, dor e distúrbios da motilidade na síndrome do intestino irritável.
O cérebro e o intestino tem várias vias bidirecionais de comunicação e a microbiota tem um grande papel nos estímulos que partem do intestino.
Vários sinais do cérebro afetam as funções sensoriais, motoras e secretórias do trato gastrointestinal. Da mesma forma, os sinais viscerais do trato gastrointestinal podem influenciar as emoções e outras funções cerebrais.
Por esse motivo tanto o estresse físico e o emocional, quanto alterações da microbiota, podem agravar o quadro da síndrome do intestino irritável.
O estresse e a ansiedade parecem contribuir, pelo menos em parte, para a hipersensibilidade intestinal, por meio da modulação das vias de processamento da dor neural por hormônios glicocorticóides, que também são chamados de "hormônios do estresse".
PRODUÇÃO DE ACETATO E OUTROS COMPOSTOS PELO MICROBIOMA
A microbiota produz uma ampla gama de metabólitos e produtos químicos que influenciam a função do intestino. Por exemplo, 90% do acetato, um ácido graxo de cadeia curta (SCFA), produzido principalmente pela fermentação bacteriana no cólon é absorvido pelos colonócitos (células que compõem a mucosa do intestino grosso). A oxidação do acetato é responsável por 60-70% da energia utilizada no funcionamento dos colonócitos.
Essa energia é muito importante para a resposta imune e no desenvolvimento do sistema imunológico do intestino que atua como barreira contra patógenos na mucosa intestinal.
A síndrome do intestino irritável também está associada ao aumento da produção de outros ácidos graxos de cadeia curta encontrados em maior concentração no cólon que podem contribuir para mudanças nas respostas viscerais à dor e à motilidade que caracterizam a síndrome do intestino irritável.
CRESCIMENTO EXCESSIVO DE BACTÉRIAS NO INTESTINO DELGADO
Essa é uma condição caracterizada pelo crescimento excessivo de micróbios no intestino delgado causando uma fermentação excessiva dos alimentos que começa antes da comida ser completamente digerida e absorvida, levando à formação de gases. Essa condição é mais comum em pessoas com distúrbios da motilidade intestinal, baixa produção de ácido estomacal e obstrução do intestino. A prevalência de super crescimento bacteriano do intestino delgado, na síndrome do intestino irritável, varia entre os estudos, mas as estimativas são de cerca de 20 a 84%.
MICROBIOTA, IMUNIDADE E INFLAMAÇÃO
A microbiota intestinal pode causar alterações nos níveis circulantes de citocinas pró e anti-inflamatórias e podem causar processos inflamatórios tanto no intestino quanto no cérebro, principalmente no hipotálamo.
O processo inflamatório é responsável por alterações na barreira de proteção da mucosa intestinal causando alteração do epitélio intestinal, com aumento da permeabilidade do intestino e alterações da motilidade intestinal.
Além disso, as alterações da barreira de proteção da mucosa intestinal podem estar associadas às intolerâncias alimentares comuns nessa doença.
O sistema imunológico intestinal interage com a microbiota intestinal e ajuda a manter a normalidade das funções gastrointestinais. Qualquer alteração na microbiota intestinal pode estar associada à ativação da imunidade da mucosa causando inflamação.
ALIMENTAÇÃO E MICROBIOTA
As intolerâncias e alergias alimentares são comuns em pessoas com síndrome do intestino irritável, com sintomas desencadeados por alimentos específicos, como laticínios, grãos e gorduras. De fato, estudos populacionais estimaram que até 70% dos pacientes com síndrome do intestino irritável sofrem de sintomas de intolerância alimentar.
Exames para mapear as alergias ou intolerâncias alimentares (IgG4) são importantes para saber quais alimentos devem ser excluídos da dieta.
Alguns alimentos como glúten (trigo, centeio, cevada e aveia) e o leite (não apenas a lactose) são os primeiros a serem excluídos na maioria dos casos.
TRATAMENTO DA SÍNDROME DO CÓLON IRRITÁVEL
No gerenciamento da síndrome do cólon irritável é necessário usar uma abordagem abrangente que combina tratamentos convencionais com dietas, estilo de vida, gerenciamento do estresse e produtos naturais.
Técnicas de redução de estresse (por exemplo, meditação, terapia cognitiva, sessões de psicoterapia, etc.) são de grande ajuda. Faça exercícios regularmente.
Considere fazer acupuntura.
PROBIÓTICOS
Probióticos são bactérias reconhecidamente benéficas que podem ser encontradas nos alimentos fermentados, como chucrute, kefir, kombucha e probióticos em cápsulas, cuja ingestão traz benefícios à saúde.
Vários estudos têm demonstrado, consistentemente, um benefício terapêutico com o uso de probióticos, incluindo a redução de episódios de inchaço, flatulência e frequência intestinal e melhora nos sintomas globais na síndrome do cólon irritável.
Estudos sugerem que os probióticos podem impedir que os patógenos aumentem a permeabilidade intestinal, melhorando a função da barreira mucosa. Além disso, os probióticos podem alterar a composição da microbiota intestinal, aumentando a expressão de receptores opióides e canabinóides no revestimento da mucosa intestinal, reduzindo a hipersensibilidade visceral e modulando a imunidade.
PREBIÓTICOS E CARBOIDRATOS FERMENTÁVEIS
Os prebióticos são partes dos alimentos que ingerimos e que não são digeridos, servindo de alimento para os micro-organismos benéficos do intestino.
Inulina, frutanos e galacto-oligossacarídeos promovem o crescimento de bifidobactérias e lactobacilos que têm capacidade de digerir esses substratos. Foi demonstrado que com doses mais baixas de prebióticos os sintomas globais da síndrome do cólon irritável melhoram, enquanto que com doses mais altas os sintomas pioram, devido ao aumento dos níveis de produtos de fermentação acumulados e dos gases formados.
TRANSPLANTE FECAL
Nos USA um dos tratamentos utilizados para tratar a síndrome do cólon irritável com excelentes resultados é o transplante fecal.
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
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