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Foto do escritorBerenice Cunha Wilke

SURAMINA EM BAIXAS DOSES – ESTUDO EM FASE I/II PARA AVALIAÇÃO NO TRATAMENTO DO TEA.

Atualizado: 13 de abr. de 2024

A Suramina foi sintetizada pela primeira vez em 1916 tornando-a um dos mais antigos medicamentos artificiais ainda em uso médico. É utilizada no tratamento da doença do sono na África e permanece na lista de medicamentos essenciais da Organização Mundial da Saúde.


Ela está sendo proposta para o tratamento do autismo, já tendo apresentado resultados interessantes no tratamento de camundongos autistas.


O autismo é causado provavelmente por uma combinação de fatores ambientais e genéticos diferentes para cada pessoa, levando a quadros clínicos únicos, ou seja, cada pessoa autista apresenta manifestações da doença diferentes dos demais.


Uma abordagem para enfrentar o desafio de proporcionar um tratamento para uma doença com muitas etiologias como o TEA (Transtorno do Espectro Autista) é definir uma fisiopatologia comum que possa contribuir para os principais sintomas independentemente de ter sido iniciada por diferentes gatilhos genéticos e ambientais.


Nesse estudo foi levantada a hipótese de que existe uma mesma resposta celular que ocorre devido à perturbação metabólica, um perigo a que o organismo é submetido devido a essas causas genéticas e ambientais.


Isso é chamado de hipótese de perigo celular. A formulação dessa hipótese foi baseada no reconhecimento de que vias metabólicas semelhantes eram reguladas coordenadamente como uma resposta adaptativa à ameaça celular, independentemente da perturbação ter sido causada por um vírus, bactéria, poluição, desequilíbrio ou doença mitocondrial, ou distúrbios do neurodesenvolvimento com mecanismos patogênicos complexos entre genes e ambiente, como no autismo.


Quando ocorrem ameaças às células, ocorre uma resposta integrada a esses fatores estressantes e as células reagem defensivamente, endurecendo suas membranas e diminuindo a comunicação entre si. Isso é conhecido como resposta ao perigo celular, reação geralmente temporária.


Estudos pré-clínicos mostraram que a resposta ao perigo celular em camundongos produzia uma síndrome metabólica tratável que era mantida por sinalização purinérgica.


A sinalização purinérgica é uma rota comum de comunicação célula-célula em muitos mecanismos neuronais e não neuronais, ocorrendo em eventos de curta e longa duração, incluindo respostas imunes, inflamação, dor, agregação plaquetária, vasodilatação mediada pelo endotélio, proliferação e morte celular.


A suramina é uma droga antipurinérgica que corrigiu nos camundongos as características comportamentais e metabólicas de modelos genéticos e ambientais dos camundongos com autismo.


Em altas doses cumulativas, usadas em várias doenças, a suramina tem efeitos colaterais sérios. Quando os níveis sanguíneos foram mantidos acima de 150 μmol / L por 3 a 6 meses foram descritos vários efeitos colaterais como insuficiência adrenal, anemia e neuropatia periférica.


Nos estudos em camundongos baixas doses de suramina foram utilizadas mantendo níveis sanguíneos de cerca de 5 a 10 μmol /L. Essa dose foi eficaz no tratamento de sintomas semelhantes ao TEA e não produziu toxicidade, mesmo quando usada por pelo menos 4 meses.


O estudo atual foi feito com um número pequeno de 10 de crianças autistas sendo que 5 receberam a suramina EV e os outros 5 um placebo.


Das crianças que receberam a suramina apenas uma apresentou erupção cutânea autolimitada e não ocorreram eventos adversos graves.


A análise farmacológica do metabolismo mostrou que as vias alteradas pelo tratamento com suramina no TEA eram mediadores previamente conhecidos da resposta de perigo celular -CDR 8 - e que o metabolismo da purina foi mais alterado. Setenta e cinco por cento das vias alteradas pela suramina em crianças com TEA também foram alteradas pela suramina nos modelos de camundongos.


Nessas crianças uma dose intravenosa única de suramina foi associada a melhores escores de linguagem, interação social e comportamentos restritos ou repetitivos diminuídos, medidos através de diversas metodologias diferentes (ADOS, Pontuações ABC, ATEC e CGI). Nenhuma modificação comportamental ocorreu nas cinco crianças que receberam placebo.


A generalização desses achados é desconhecida. Estudos futuros serão necessários para confirmar esses achados em um número maior de crianças com TEA e avaliar se algumas doses de suramina administradas ao longo de alguns meses são seguras e podem causar melhoras contínuas nos sintomas do TEA.


A SURAMINA É UMA DROGA AINDA NÃO APROVADA PARA USO NO AUTISMO


Atualmente a suramina não está aprovada para nenhum uso em humanos nos Estados Unidos, exceto para lidar com os poucos casos da doença do sono africana


No autismo a suramina ainda está em fase de estudos. Enquanto esses estudos não forem concluídos ela não poderá ser usada no tratamento de pessoas no TEA.






Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.



Para saber mais:


Ann Clin Transl Neurol. 2017 Jul; 4(7): 491–505.

Low‐dose suramin in autism spectrum disorder: a small, phase I/II, randomized clinical trial

Robert K. Naviaux,


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