A síndrome de Down é um distúrbio genético causado quando a divisão celular anormal resulta em uma cópia extra completa ou parcial do cromossomo 21. A superexpressão de centenas de genes triplicados do cromossomo 21 causa alterações no desenvolvimento físico e mental, sendo a causa mais comum de deficiência intelectual devida a uma alteração genética. Ela afeta um em cada 700 –1000 nascidos vivos.
As características faciais na síndrome de Down são típicas e podem, além de causar estigmas sociais, prejudicar funções vitais como audição, respiração, mastigação e saúde.
Além disso, na síndrome de Down ocorre um aumento da incidência do desenvolvimento da doença de Alzheimer, obesidade e subsequentes distúrbios metabólicos.
As pesquisas realizadas ao longo dos anos procuraram evidenciar quais os principais genes do cromossomo 21, que na trissomia, causavam as diversas as alterações encontradas na síndrome de Down. Essas pesquisas levaram ao gene DYRK1A que codifica uma proteína quinase envolvida nas alterações cerebrais, faciais e doenças metabólicas associadas à síndrome de Down.
A inibição do DYRK1A vem emergindo como uma via terapêutica promissora. Os estudos tem mostrado que as catequinas tem um efeito inibitório da função do DYRK1A podendo minimizar o efeito da trissomia desse gene.
As catequinas são polifenóis amplamente distribuídas em muitos alimentos e ervas: maçãs, frutas vermelhas, favas, peras, chocolate e produtos de cacau e no vinho tinto. É também um dos principais ingredientes biológicos ativos das folhas de chá, representando mais de 75% dos compostos polifenólicos, sendo predominante a EGCG (Epigalatocatequina Galato).
Vários estudos tem mostrado diversos benefícios das catequinas como uma abordagem para gerenciar a Síndrome de Down, mostrando efeitos benéficos tanto na melhora cognitiva quanto nas alterações faciais.
Uma revisão recente analisou diversos estudos que mostraram o potencial das catequinas na melhora cognitiva das crianças com síndrome de Down devido a inibição do DYRK1A, causando melhora da função sináptica, melhora da plasticidade cerebral e da produção de neurotransmissores envolvidos na aprendizagem e na memória.
Um estudo recente mostrou o efeito das catequinas do chá verde na suavização dos traços faciais em camundongos modificados geneticamente para desenvolverem traços semelhantes a síndrome de Down. Em seguida, realizaram um estudo observacional transversal para avaliar o formato facial na síndrome de Down e avaliar os efeitos da automedicação com extratos de chá verde em crianças de 0 a 18 anos. Nesse estudo eles constataram que as crianças tratadas antes dos 3 anos foram as que apresentaram a diminuição mais acentuada dos traços faciais típicos da síndrome de Down.
Figura 1- Alterações no formato facial em crianças com síndrome de Down. Reconstruções faciais obtidas a partir de 3dMD e Agisoft PhotoScan e morphings realizados com Amira.
Contudo, mais estudos serão necessários para aprofundar o conhecimento sobre os benefícios conferidos pelo uso das catequinas na síndrome de Down, as doses mais seguras e os efeitos colaterais do tratamento.
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Catechins as a Potential Dietary Supplementation in Prevention of Comorbidities Linked with Down Syndrome.
Noll C, Kandiah J, Moroy G, Gu Y, Dairou J, Janel N.
Nutrients. 2022 May 12;14(10):2039
Martínez Cué C, Dierssen M.
Prog Brain Res. 2020;251:269-302
Green tea extracts containing epigallocatechin-3-gallate modulate facial development in Down syndrome.
Starbuck JM, Llambrich S, Gonzàlez R, Albaigès J, Sarlé A, Wouters J, González A, Sevillano X, Sharpe J, De La Torre R, Dierssen M, Vande Velde G, Martínez-Abadías N.
Sci Rep. 2021 Feb 25;11(1):4715.
de la Torre R, et al.
Lancet Neurol. 2016 Jul;15(8):801-810.
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