O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos mentais mais comuns, com prevalência de 5% a 7,2% entre crianças em idade escolar e seus sintomas persistem em 60% dos adultos. Estima-se que a prevalência de TDAH em adultos seja de aproximadamente 6,7%. Estimativas recentes indicam que a prevalência é ainda maior em crianças nos Estados Unidos (EUA), cerca de 8,7% ou 5,3 milhões.
Crianças com TDAH podem ter dificuldade para prestar atenção, controlar comportamentos impulsivos (podem agir sem pensar no resultado) ou ser excessivamente ativas.
SINAIS E SINTOMAS DO TDHA
É normal que as crianças tenham dificuldade de concentração e de comportamento em um momento ou outro. O TDHA ocorre quando essa dificuldade é contínua e afeta diversos aspectos da vida. Os sintomas contínuos, podem ser graves e causar dificuldades na escola, em casa ou com amigos.
Uma criança com TDAH pode:
Agitação
Sonhar muito, estar sempre distraido;
Esquecer ou perder muitas coisas;
Contorcer-se ou ficar inquieto com muita frequência;
Falar muito;
Cometer erros por descuido ou assumir riscos desnecessários;
Ter dificuldade em resistir à tentações;
Ter dificuldade no relacionamento com outras pessoas.
No TDHA todos os sintomas não precisam estar presentes na mesma pessoa. Por isso, ele é divido em 3 tipos aonde a pessoa é: predominantemente desatenta, predominantemente hiperativa-impulsiva ou os 2 tipos anteriores combinados.
As causas e os fatores de risco do TDAH são desconhecidos, mas pesquisas atuais mostram que a genética desempenha um papel importante. Além da genética, os cientistas estão estudando outras possíveis causas e fatores de risco, incluindo várias causas gestacionais e ambientais.
CROCUS SATIVUSL L
Crocus sativus L., também conhecido como açafrão tem cerca de 150 componentes diferentes, sendo a crocetina, a crocina e o safranal os que tem os principais efeitos médicos conhecidos. Suas propriedades terapêuticas foram cientificamente comprovadas e demonstradas em vários estudos em animais e humanos, incluindo estudos de aprimoramento da memória, antidepressivos, ansiolíticos, antiinflamatório, antioxidante e de neuroproteção.
No TDHA, o equilíbrio dos sistemas dopaminérgicos, noradrenégicos e glutamatérgicos estão afetados. A dopamina é conhecida como a "molécula do prazer" e desempenha um papel vital na motivação, recompensa e foco. No TDAH, esse desequilíbrio da dopamina leva a dificuldades em manter a atenção e a busca por recompensas instantâneas, como as que ocorrem em comportamentos impulsivos. A noradrenalina está ligada à vigilância e ao estado de alerta e nos ajuda a priorizar estímulos relevantes e inibir aqueles que são distrativos. Seu equilíbrio afetado contribui para lapsos de atenção e dificuldades em filtrar informações irrelevantes. O glutamato é o principal neurotransmissor excitatório do SNC. Seu desequilíbrio contribui também para o TDHA.
Por ter efeito nos sistemas dopaminérgicos, noradrenégicos e glutamatérgicos e, um perfil de segurança satisfatório, o extrato padronizado de crocus sativus, rico em crocina e safranal, tem sido proposto para o tratamento do TDAH
ESTUDO COMPARATIVO ENTRE OS EFEITOS DO CROCUS versus METILFENIDATO
Em 2019 foi realizado pela Dra Sara Baziar um “ensaio clínico piloto duplo-cego randomizado” para comparar a eficácia e segurança das cápsulas de açafrão com um medicamento estimulante comumente usado (metilfenidato) em crianças que estavam sofrendo de TDAH.
Cinquenta crianças foram alocadas aleatoriamente em dois grupos, sendo que 25 pacientes receberam Ritalina (metilfenidato) e 25 pacientes receberam extrato padronizado de crocus sativus. Nenhuma diferença significativa foi observada em relação às características básicas das crianças, como idade e sexo, entre os dois grupos.
Os pais e professores foram entrevistados cuidadosamente e avaliaram a gravidade dos sintomas de TDAH no início e ao longo das 6 semanas.
RESULTADOS DO ESTUDO CROCUS versus METILFENIDATO SEGUNDO A AVALIAÇÃO DOS PAIS
Figura 1. Efeitos do tratamento com extrato seco padronizado de crocus sativus e metilfenidato (ritalina) na pontuação da Escala de Avaliação de TDAH dos Pais. Os valores representam média ± erro padrão da média.
Os resultados do estudo mostraram que não houve diferença significativa em termos de pontuações da Escala de Avaliação do TDAH pelos pais no início do estudo entre os 2 grupos.
A tendência dos dois grupos de tratamento foi semelhante ao longo do tempo tanto na hiperatividade quanto na desatenção.
Além disso, foi demonstrado um efeito significativo de ambos os tratamentos na melhoria das pontuações da Escala de Avaliação do TDAH dos Pais. Os 2 grupos mostraram uma redução significativa ao longo da semana 3. Não houve diferença significativa entre os grupos de tratamento na sexta semana do estudo.
RESULTADOS DO ESTUDO CROCUS versus METILFENIDATO SEGUNDO A AVALIAÇÃO DOS PROFESSORES
Figura 2 Medida repetida para comparação dos efeitos de dois tratamentos na pontuação da Escala de Avaliação de TDAH para Professores. Os valores representam média ± erro padrão da média. TDAH, transtorno de déficit de atenção/hiperatividade.
Não houve diferença significativa entre os dois grupos em termos da taxa de resposta definida por uma redução de pelo menos 40% nas pontuações da Escala de Avaliação de TDAH para Professores.
CONCLUSÃO
Este estudo fornece evidências de resultados satisfatórios comextrato seco padronizado de crocus sativus no tratamento do TDAH. No entanto, “estudos controlados por placebo” maiores, com períodos de tratamento mais longos, são indicados para estudos futuros.
Sou Dra. Berenice Cunha Wilke, médica formada pela UNIFESP em 1981, com residência em Pediatria na UNICAMP. Obtive mestrado e doutorado em Nutrição Humana na Université de Nancy I, França, e sou especialista em Nutrologia pela Associação Médica Brasileira. Também tenho expertise em Medicina Tradicional Chinesa e uma Certificação Internacional em Endocannabinoid Medicine. Lecionei em universidades brasileiras e portuguesas, e atualmente atendo em meu consultório, oferecendo minha vasta experiência em medicina, nutrição e medicina tradicional chinesa aos pacientes.
Para saber mais:
Baziar S, Aqamolaei A, et all
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Dunn GA, Nigg JT, Sullivan EL.
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Verlaet AAJ, Maasakkers CM, Hermans N, Savelkoul HFJ.
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